Godinho Lopes é um avião sem sistema de navegação. Com um rosto de medo e rápido a caminhar até à saída, afirmou, acabado de chegar ao aeroporto de Lisboa, que nada iria acontecer ao treinador. No dia a seguir, já protegido pelo afastamento físico de quem o contestava no aeroporto, menosprezou a justa contestação e, tal e qual JEB nos últimos tempos da sua miserável e empobrecedora administração, optou por ofender os “30 adeptos”. Mais um dia passado após a contestação, despede o homem que antes tinha garantido permanecer no lugar, supostamente imune ao mau momento. É isto a Linha Roquete: loucura decisorial e desrespeito pelo Sporting e pelos seus adeptos.
"O Sportinguista, em mais de 100 anos de dita escolha, jamais ousou queimar ou detrair o símbolo e a cor que o identificam. Outros, os tais que clamam superioridade moral e identitária, fizeram-no.", dito por pai de Daniel.

25 de abril de 2011

25 de Abril Sportinguista e um pouco de história de Portugal

As hostes leoninas que escrevem sobre o Sporting no mundo vasto e rico – no que concerne unicamente ao Sporting, porque existe por aí muita diarreia vermelha e azul - da internet fazem referência à necessidade de um 25 de Abril no Sporting, uma revolução, portanto, que elimine de vez o poder vigente e que traga, mesmo que num clima de confusão e exuberante felicidade, liberdade aos sócios e, o mais importante, ao clube, que se vê, como deixo bem claro sempre que escrevo sobre o Sporting e sobre os dirigentes que regem o clube há mais de uma década em total desconexão com os adeptos, com os sócios e com a identidade Sportinguista, talvez o aspecto mais vezes negligenciado por quem ocupa a cadeira do poder, cada vez mais enfraquecido. Um facto merece inegável referência: a identidade Sportinguista, única neste país e talvez das poucas realmente singulares no mundo, está mais fraca, mais abandonada.

São mais de 2700 palavras, mas penso que conseguirão “sobreviver” ao marasmo.

Em relação à questão relacionada com um 25 de Abril no Sporting Clube de Portugal, tendo em conta a natureza do acontecimento político referente (o 25 de Abril de 1974, acontecimento para sempre deve ser lembrado e comemorado por todos os democratas de Portugal), tenho o seguinte a dizer: quem me conhece sabe muito bem as minhas inclinações ideológicas (liberal e anti-comunista acérrimo), pelo que costumo, e fi-lo no meu outro blogue, conceder a este dia, 25 de Abril, uma análise muito simples: politicamente, louvo o 25 de Abril, porque serviu especificamente para, e esquecendo momentaneamente e para efeitos práticos a problemática militar que esteve sempre por detrás do pensamento do grupo que constituiu o Movimento das Forças Armadas, sendo historicamente considerada uma revolução militar, derrubar de vez a ditadura do Estado Novo, regime imposto não-oficialmente em 1932, ano em que Oliveira Salazar cimenta o seu poder e a sua sapiência enquanto aspirante a político e reputado conhecedor de finanças públicas, e oficialmente em 1933, com a aprovação da Constituição de 1933, documento que teve como um dos principais redactores e teóricos a figura política, o Presidente do Conselho, que acabaria por ser derrubada em 1974, Marcello Caetano, que depois fugiu para o Brasil após, entre outros militares, Salgueiro Maia, um dos genuínos heróis de Abril, rodear o Quartel do Carmo, instalações da época da GNR, e obrigar o governo a transmitir o poder soberano ao MFA, nomeadamente a Spínola, general das Forças Armadas Portuguesas.

O segundo aspecto da minha habitual análise ao 25 de Abril diz respeito à política económica escolhida, a via para o socialismo. Ora bem, o 25 de Abril económico não foi mau para Portugal, foi terrível. Qualquer aluno universitário que tenha estudado a evolução da economia portuguesa (na disciplina Economia Portuguesa e Europeia) sabe muito bem, através de dados, estatísticas e comentários concretos, que o que aconteceu foi ruinoso, além de tudo ter ocorrido num período de conturbado momento político, dada a indefinição partidária, a falta de união por parte da vertente militar de Portugal e o fanatismo, encabeçado nos movimentos políticos da extrema-esquerda, ideológico de determinados quadrantes da sociedade, do exército, etc. Não vale sequer a pena divagar muito sobre o que aconteceu especificamente à economia portuguesa, pois basta unicamente referir que o FMI, que agora se encontra em Portugal com vista a emprestar à pátria o capital suficiente para ela poder “passar o mês de Maio”, foi chamado pela classe política em 1977. E, dada a gravidade de problema que permaneceu sem o devido acompanhamento da classe política de então, novamente em 1983.

Agora, façamos questão de arquitectar, dentro dos limites do possível e do razoável (porque o Estado Novo tem vítimas humanas no seu currículo, dado o regime político de índole autoritário, a mando da PIDE/DGS, política política do regime), uma simbiose entre o 25 de Abril de 1974 e um 25 de Abril no Sporting Clube de Portugal utilizando as duas vertentes que acima especifiquei: a vertente política e a vertente económica. No Sporting, a vertente política dirá respeito, como entenderão, à administração incumbente, a linha Roquete, que ainda hoje permanece representada, volumosamente, no Sporting. Um 25 de Abril político no Sporting significaria o fim desta famigerada Linha que, tal como o Estado Novo, embora com longevidades significativamente diferentes, há muito tempo permanece na cadeira do poder. 15 anos com a mesma estirpe de gestores no poder, para um clube de futebol com tamanha grandeza e componente identitária, é muito, muito tempo, e a maioria dele passado penosamente, com derrotas infelizes, com pouca ou nenhuma sorte, e um percurso financeiro penoso e à beira de, tal como a nação, necessitar do seu próprio FMI – dívida galopante (passivo), produtividade baixa (performance da equipa de futebol), problemas financeiros gravosos que atingem o Sporting Clube de Portugal há algum tempo.

Por outro lado, procuremos enunciar outros aspectos similares entre o Estado Novo (com a devida e justa separação, como fiz questão de acima mencionar) e a Linha Roquete. A dita Linha Roquete, criada pelo empresário José Roquete em 1996 mas um ano antes representada pelo bonifrate Pedro Santana Lopes, um político muito à imagem da classe política, da esquerda à direita, portuguesa: sem nada para apresentar, de mérito e louvor, fora da política, estando dependente dela, das benesses que ela providencia aos mais “hábeis”, para sobreviver e ser, com pouco ou nenhum mérito, reconhecido – Sá Carneiro, a saudade de um homem da tua categoria e integridade é enorme –, inicia-se no Sporting com a intenção de modernizar o clube e afiançar que este não mais estará dependente de más performances desportivas, e garantindo, também, que a sanidade financeira do clube estaria sempre assegurada, fruto de investimentos realizados fora do aspecto futebol. Ora bem, a política referida acima, no fundo, pode hoje ser resumida a uma enorme falsidade, porque em momento algum providenciou os resultados prometidos, e uma gigante farfalhice, dado que o pouco dinheiro disponível, cujas quantias não foram assim tão diminutas quanto alguns pensam, foi sempre despendido sem qualquer critério e rigor, dando azo a comportamentos de hipócrita riqueza que são ofensivos para com os resultados que de facto foram vividos pelo clube, que mantém o seu pergaminho histórico como missão fundamental (de ser um dos maiores clubes da Europa), e pelos adeptos, cuja dedicação e especial caracterização enquanto tal foi sempre alvo de chacota, infelicidade profunda e miséria. Tudo consentido, infelizmente, porque os actos eleitorais sucessivos concluíram-se sempre com a vitória dos que nos têm ferido e debilitado.

O Estado Novo teve a PIDE/DGS, que assegurava a manutenção da idoneidade ideológica preconizada por Salazar, tendo esta confrontado, até ao começo da Guerra do Ultramar, o PCP epicamente, tendo o PCP, por falta de meios logísticos e humanos, perdido o confronto, com elementos seus a acabarem recorrentemente presos e torturados de forma bárbara e inaceitável. A Linha Roquete, pelo menos desde José Eduardo Bettencourt, há não muito tempo, portanto, também teve direito à sua PIDE/DGS: elementos de algumas claques do Sporting que deixaram bem vincadas as suas inclinações ridículas – porque apoiavam, a troco de algo que não Sportinguismo, quem sucessivamente denegria o nosso clube – pró-José Eduardo Bettencourt. Algumas assembleias do Sporting serviram para a efectivação dessa triste constatação, com agressões a sócios que, exercendo um dos direitos fundamentais judicialmente válidos na Constituição da República de 1976, se manifestavam contra,  e de forma inteiramente lógica (só um desvairado, ou talvez benfiquista ou portista, consegue congeminar argumentos que na sua centralidade defendam as linhas-gerais de todos os presidentes da Linha Roquete), a política – financeira, desportiva, comunicacional e institucional – do presidente de então, Bettencourt, homem com elevada experiência bancária que administrou o clube como se nunca na vida tivesse sido educado em conceitos de finanças empresariais, o que torna tudo realmente pérfido, e tendo também sido recrutado por António Horta Osório, o mais reputado banqueiro português.

A questão política, a forma como se consegue estabelecer um paralelo entre a Linha Roquete e a forma de estar e representar do Estado Novo, não termina aqui. Também o Sporting tem os seus rostos estranhos: Paulo Pereira Cristóvão, outrora representante de um projecto alternativo, o primeiro de tão profundo conteúdo e oferta de soluções, tem similar condição à de Marcello Caetano, não quando este assumiu os destinos de Portugal, em 1968, após o senil Salazar ser terminado por um AVC, mas quando foi um dos opositores internos à forma de fazer política de Salazar. Marcello Caetano foi um professor adorado, ainda o é (Francisco Balsemão, entre muitos outros, que o diga, por exemplo), pelos seus alunos. Era tido como um professor eloquente, dinâmico e muito inteligente. De tal forma que contribuiu para a criação do Direito Administrativo, obra cujas bases ainda hoje perduram e são tidas em conta por qualquer aluno de Direito. Caetano conheceu Salazar quando ocupava o cargo de auditor do Ministério das Finanças, ministério que dera início à carreira política do ditador. A importância do cargo era suprema no contexto político do Estado Novo, já que Salazar sempre foi conhecido pela forma rígida com que abordava a questão das finanças públicas (a dívida externa que o diga, reduzida drasticamente durante o seu consulado político), e era apenas natural que um importante homem do Ministério das Finanças, como era Caetano em meados da década de 50, fosse visto como sucessor do ditador, o que conferiu a Caetano mediatismo e importância dentro do regime. Contudo, Caetano, aproveitando a aura de intocabilidade que adveio da sua fama enquanto jurista, professor e político, criticou a política de Salazar, nomeadamente as questões relacionadas com a liberdade de imprensa, sufocada e alvo da famigerada “Censura”, o que levou Salazar a iniciar um processo que culminaria com o afastamento de Caetano do governo. Caetano, que antes tinha desempenhado outras funções governativas (Pasta das Colónias, Presidente da União Nacional, Comissão Executiva da Câmara Corporativa, entre outros, e peço desculpa por a minha memória histórica me falhar neste momento), aproveitou a ira e desconfiança do ditador e regressou ao mundo universitário, leccionando alunos que apreciavam as suas lições e o seu conhecimento profundo sobre Direito. Já como Reitor da Universidade Clássica de Lisboa, Caetano viu-se confrontado com a brutalidade policial que na época, fruto da profusão de movimentos intelectuais de estudantes, alguns ligados à extrema-esquerda, profundamente insatisfeitos com a inexistência libertária do país e com a política seguida em relação à Guerra do Ultramar, se abatia violentamente sobre estudantes indefesos: bastonadas, detenções sumárias, tendo inclusive alguns, muito poucos, alunos ido parar às várias prisões privativas da PIDE. As diferenças e os diferendos, cujo mediatismo era já conhecido apesar de não existir liberdade de imprensa, terminaram quando Salazar foi dado como incapaz para as funções por Américo Tomás, Presidente da República de então. Marcello Caetano, de longe visto como o sucessor mais forte (Adriano Moreira era outro nome a ter em conta, e existem outros, mas não me lembro dos nomes), é nomeado Presidente do Conselho de Ministros, o cargo que realmente importava durante o Estado Novo. E aqui entra a suprema relação entre Paulo Pereira Cristóvão, antes destas eleições tido em conta como alternativa, e Marcello Caetano, que prometeu a famigerada “renovação na continuidade”, objectivo político que preconizava, dando seguimento às ideias que o próprio enunciara há muitos anos, uma gradual liberalização política e económica do regime, garantindo a liberdade de imprensa (projecto-lei apresentado por Francisco Sá Carneiro, que terminou rejeitado), a formalização judicial dos direitos fundamentais (projecto-lei apresentado por Francisco Sá Carneiro, que terminou rejeitado) e criação de uma nova Constituição (tal como todas as outras, não só na sugestão como também na rejeição que acabaria por surgir, um projecto encabeçado por Francisco Sá Carneiro). Nada aconteceu. A liberalização económica surgiu de facto, e os seus efeitos foram de supremo valor, dado que Portugal, durante o Marcelismo, crescia muito mais do que os seus parceiros europeus, e mais frutuosa e meritocrática se torna a evidência se tivermos em conta a existência de uma guerra que forçava o Estado Novo a caminhar importantes somas para o esforço de guerra. O problema, de facto, ocorreu na negação da abertura política desejada pelo país e anunciada anteriormente pelo próprio Marcello Caetano. A título de exemplo, a PIDE foi renomeada para DGS, uma atitude de cosmética também realizada por Salazar quando este último aprovou a Constituição de 1933, de PVDE para PIDE. Godinho Lopes, rosto principal da administração a que Pereira Cristóvão pertence, é, parece-me, o Marcello Caetano do Sporting: “renovação na continuidade”, meras operações de estilo e visual, quando tudo parece continuar na mesma – Pinto da Costa, novamente, pode sentir Godinho Lopes ao seu lado; a nomeação de uma jornalista sem experiência para um cargo que hoje assume vital importância, dada a crescente hostilização da imprensa desportiva em relação ao Sporting. Eu espero que assim não seja, porque quero um Sporting forte, dinâmico, respeitado, temido, vitorioso. Porquê? Porque o Sporting, o verdadeiro, é a agregação das características anteriormente mencionadas, mais nada. Sou sócio e adepto de um clube sem igual em Portugal, apesar dos inúmeros defeitos que têm manchado, muitas vezes em sede própria, a sua história e imagem ao longo dos últimos 20 anos: sucessão de más decisões, rostos sectários e corruptos e uma defesa institucional vergonhosa, de submissão a terceiros, ainda por cima clubes de merda e que nada têm, do ponto de vista histórico, nem podem ou conseguem, que ver relacionados connosco e com aquilo que representamos – repito: por pior e degradante que tenham sido os anos anteriores, o Sporting Clube de Portugal será para sempre um clube nacional, bem representado em todos os cantos de Portugal, assim como em localidades no estrangeiro onde residam portugueses ou familiares destes.

Economicamente falando, portanto abandonando a vertente política desta questão, o Sporting Clube de Portugal, instituição desportiva mais vencedora de Portugal e uma das mais reputadas e credenciadas, por diversos motivos, todos eles de vitórias ímpares, do mundo, já se encontra em pleno PREC: falido, demasiado centralizado e com poucos ou nenhuns ganhos desportivos, ou seja, todo o capital existente anteriormente e despendido até agora não surtiu os efeitos desejados. O que é, então, hoje o Sporting, do ponto de vista financeiro? Só posso responder a tal questão se tiver o cuidado, a atenção, o respeito, de comparar o Sporting de hoje com o Sporting de antigamente, pré-Roquete. Financeiramente, no que diz respeito ao dinheiro disponível em caixa, para que todos compreendam o meu argumento, o Sporting, no fim da era Sousa Cintra, não era propriamente um clube a nadar em dinheiro, capaz de se sentar à mesa de negociações e trazer para Lisboa um qualquer jogador cujas qualidades desportivas fossem conhecidas. Economicamente, ou seja, no que diz respeito ao que o clube detinha na sua altura, o que ele valia enquanto organização, portanto contabilizando os terrenos, os edifícios, o pavilhão, etc., o Sporting era então um clube imensamente mais rico do que é hoje: não tem pavilhão, uma infra-estrutura que pelo seu significado histórico nem deveria sequer estar em dúvida;um clube que construiu um projecto que na sua maioria não se encontra na sua posse (Clínica CUF, Alvaláxia, etc). Os seus níveis de receita são baixos, e ofensiva se torna a questão quando comparamos o clube com outros, nomeadamente o Porto, do qual o Sporting tem imensa capacidade e potencial para superar e deixar para trás…a milhas. O número de sócios efectivos, cerca de 30.000, não é apenas degradante, tem mesmo contornos heréticos, criminosos. Chamem o Papa Lúcio III e enviem estes súcias todos que tem destruído o Sporting para a Inquisição leonina. E não é preciso qualquer confissão, é mesmo para terminar.

Portanto, que tipo de presidente será Godinho Lopes? Um presidente de modelo “renovação na continuidade”, alterando somente alguns aspectos que hoje prejudicam severamente o clube, impedindo a total transformação, para melhor, da instituição? Ou será um líder que, mesmo oriundo de uma linha dúbia, conseguirá ultrapassar as nuvens de falsidade e produzir resultados? Se a opção é a primeira, 25 de Abril é já no próximo acto eleitoral, amigos. Toca a unir as “tropas”, caminhar para o “Quartel do Carmo” e preparar o “programa do MFA”.

SPORTING CLUBE DE PORTUGAL, SEMPRE!

VIVA O 25 DE ABRIL POLÍTICO!