Godinho Lopes é um avião sem sistema de navegação. Com um rosto de medo e rápido a caminhar até à saída, afirmou, acabado de chegar ao aeroporto de Lisboa, que nada iria acontecer ao treinador. No dia a seguir, já protegido pelo afastamento físico de quem o contestava no aeroporto, menosprezou a justa contestação e, tal e qual JEB nos últimos tempos da sua miserável e empobrecedora administração, optou por ofender os “30 adeptos”. Mais um dia passado após a contestação, despede o homem que antes tinha garantido permanecer no lugar, supostamente imune ao mau momento. É isto a Linha Roquete: loucura decisorial e desrespeito pelo Sporting e pelos seus adeptos.
"O Sportinguista, em mais de 100 anos de dita escolha, jamais ousou queimar ou detrair o símbolo e a cor que o identificam. Outros, os tais que clamam superioridade moral e identitária, fizeram-no.", dito por pai de Daniel.

6 de março de 2011

Debate: conclusões e possíveis cenários [1]

candidatos1

Este é um post que conta com cerca de 2500 palavras, o que é um número aparentemente assutador. Peço-vos paciência, até porque o momento que agora vivemos necessita de reflexões ponderadas e serenas.

Tivemos direito a um debate que nos ofereceu conclusões deveras interessantes e, no meu caso, óbvias em determinados casos. Ao contrário de debates de similar importância, os candidatos presentes discutiram abertamente, na sua generalidade, os temas mais mediáticos do nosso clube, nomeadamente o futebol – o reforço da equipa de futebol e de estratégias relacionadas com a formação –, a temática das finanças – o problema de tesouraria criada pela ruinosa gestão da linha Roquete, baseada fundamentalmente em antecipação de receitas e “investimentos” injustificáveis –, e o pavilhão, tendo sido esta última a questão que me provocou algumas definições no que concerne em quem, primeiramente, não irei votar: Pedro Baltazar e Godinho Lopes.

O debate ocorreu num clima inicialmente calmo, com os candidatos a confirmarem, à excepção de Godinho Lopes (que nunca referiu qualquer quebra na dimensão institucional do Sporting, por exemplo), que o Sporting Clube de Portugal atravessa um momento particularmente doloroso, em todas as vertentes: futebol, finanças e institucional.

Primeiro, devo dizer que Bruno Carvalho “venceu”, por assim dizer, o debate de ontem. Apresentou soluções concretas, nada de novo se um tiver tido interesse em analisar o seu projecto, e não deixou de, através de factos concretos, caracterizar a péssima gestão da Linha Roquete, que agora é visivelmente representada por Godinho Lopes, candidato que, tenho a certeza, pôde contar com auxílios externos (ele bem precisou!) através do seu IPAD. Tecnologia visível, conteúdo programático invisível.

O moderador do debate, Paulo Garcia, esteve muito bem, nunca deixando que um candidato deixasse de responder objectivamente a determinada questão. Cronometrou o tempo destinado a cada um dos candidatos muito bem, não permitindo que qualquer um excedesse o seu tempo e controlasse o debate, e não interrompeu consecutivamente os candidatos quando estes apresentavam as suas ideias, etc, o que contribuiu para a fluidez de ideias, de soluções, de críticas.

Em relação os candidatos em si, e limitando-me a uma apreciação suplementar àquela em que defendo que Bruno Carvalho foi o vencedor da noite, apreciei bastante a prestação de Dias Ferreira. Apesar de não representar uma linha clara de ruptura, não tão evidente quanto Bruno Carvalho, Abrantes Mendes e Zeferino Boal, por exemplo, Dias Ferreira deixou claro que representa uma candidatura diferente da de Godinho Lopes e, pudemos constatar ontem, Pedro Baltazar, que demonstrou estar em clara conivência, em termos de ideias e de entendimento prático das contas do clube, com a candidatura de Godinho Lopes.

Agora restringindo-me a prestações individuais:

Bruno Carvalho

Docilmente eloquente, claro e frontal. Precisamente aquilo que os Sportinguistas precisam num debate de tão óbvia importância. Criticou Godinho Lopes e a sua trupe, a Linha Roquete. A eloquência do discurso surpreendeu-me bastante. Quem assim fala, de forma calma e evidentemente conhecedora da realidade profunda do clube (ainda para mais quando é um candidato out-of-the-box), merece o meu total apoio e, por enquanto, os meus quatro votos. Aliás, informo que Bruno Carvalho pode contar com 42 votos (4 meus, 16 do meu pai e 22 do meu avô).

Deixou claro que um dos seus principais objectivos, no que concerne ao problema de falta de capital para suprimir dívidas de curto prazo, é reduzir o custo inerente a dívida em si, o serviço da dívida. Isso, parece-me claro, permitirá libertar capital para investir no futebol e em outras vertentes do clube.

Confirmou que apresentará, durante a próxima semana, os investidores que comporão o seu fundo de investimento, anúncio que, na minha óptica, injectará níveis elevados de credibilidade – ainda mais – e seriedade – ainda mais - numa candidatura que, tal e qual outras presentes em anteriores actos eleitorais, tem sido vítima da estratégia comunicacional comum da Linha Roquete: a aparente necessidade de qualquer candidatura presidencial séria ter assentimento prévio da banca, nomeadamente do BES, entidade credora que, não sendo a principal credora do clube, parece estar universalmente presente no processo de decisão interno, além de vários rostos administrativamente ligados ao BES terem desempenhado funções no clube. Uma situação claramente violadora dos mais básicos princípios de ética. Os interesses da Sporting, SAD. jamais serão iguais aos de qualquer outra entidade, pelo que tal comportamento é altamente reprovável.

Admitiu que será remunerado, o que me parece justo, e afirmou inclusive que auferirá menos do que o anterior presidente, 40.000€/mensais, salário que em momento algum teve qualquer retorno (para os rivais, talvez).

Criticou Godinho Lopes por este ter, e tal é um facto, projectado um complexo desportivo sem pavilhão para as modalidades, vertente desportiva do nosso clube que faz parte do nosso ADN. Defendeu também que o pavilhão terá de ser pensado numa óptica de permanente rentabilização, o que é perfeitamente racional, dado que devemos procurar a crescente e gradual sustentabilidade de cada uma das nossas modalidades.

Defendeu uma maior defesa institucional do Sporting, isto através de garantir a presença e voz leonina nos órgãos de poder, órgãos que se encontram, desde sempre no caso do Benfica e há 30 no caso do Porto, infestados pela influência vermelha a azul.

O treinador, aparentemente, tanto poderá ser português como estrangeiro. Tal ficará definido quando o pré-acordo for assinado. O modelo estratégico do futebol assentará numa relação próxima entre a formação, pilar de excelência da nosso clube e definidor da nossa capacidade, e a equipa principal, que, afirma Bruno Carvalho, será reforçada com 8 ou 9 jogadores. Reforço esse que se encontra já em andamento.

Em conclusão, Bruno Carvalho foi, sem qualquer dúvida possível, o candidato que melhor esteve no debate. Demonstrou-se preparado para qualquer tema, o que demonstra iniciativa e interesse sério no nosso clube e no estado presente do mesmo. Falou sempre de forma clara e evidente, nunca se deixando ultrapassar pela construção momentânea da lógica. Começou sempre por apresentar soluções concretas, passos e atitudes a tomar em caso de ser eleito, acabando por desmentir Godinho Lopes, candidato da banca que tentou passar a perna aos Sportinguistas no timing de execução das VMOC – um exemplo perfeito da seriedade e transparência desta linha.

 

Godinho Lopes

Claramente o candidato da continuidade. Seria irrisório e deveras estúpido tentar sequer argumentar em sentido contrário. Por que razão o digo/escrevo? Ora bem, o rosto comum de todas as candidaturas da continuidade tem sido José Maria Ricciardi, CEO do Banco Espírito de Investimento, S.A, e o mesmo fez questão de, em primeira linha e facilmente visível e identificável na tal reunião de apresentação formal da candidatura, marcar presença na mesma, dando o seu aval.

Munido do seu IPAD, portanto dando uma demonstração do seu gosto pela alta tecnologia e engenharia informática, Godinho Lopes teve uma presença manifestamente exotérica, se tivermos em conta todo o mediatismo, talvez fomentado por interesses de terceiros e não em prol do Sporting Clube de Portugal, em torno desta candidatura.

A sua prestação vocal e presencial não foi nada de especial, e em termos de ideias encontra-se claramente atrás de Bruno Carvalho, nome e candidato que Godinho Lopes desconhecia, tratando-o por “Nuno”. Quem demonstra tão “profundo” conhecimento da concorrência só pode estar preparado para, num clube minimamente são, ser derrotado em qualquer iniciativa eleitoral. Mas constatamos, fruto dos últimos anos e dos últimos rostos que têm liderado o SCP, que sanidade é uma característica pessoal que rareia no nosso clube. Tristemente, diga-se, porque a capacidade de divulgar e absorver informações, neste contexto de uma sociedade altamente informatizada e interligada, é algo comum a quase todos. As informações estão aí, digo eu. As evidências, igualmente.

Referiu várias vezes ser competente e credível. Bem, tal parece-me uma mentira descarada, parece-me uma táctica eleitoral demasiadas vezes repetida. Credível, um homem que projectou um estádio sem uma componente vital à identidade do clube? Credível, um homem várias vezes investigado pela justiça e cujo nome aparece em casos cronicamente mal explicados? O significado da palavra “credível” deve ter sido alterado há pouco tempo, então.

Representa a continuidade porque integra nomes da anterior gestão na sua lista, nomes que anteriormente desempenhavam funções executivas, ou seja, rostos que efectivamente decidiam: Nobre Guedes.

A estratégia suprema de Godinho resume-se a, sempre, referir dois nomes: Luís Duque e Carlos Freitas, sendo que o último se posiciona, provavelmente, como o maior mito da gestão desportiva portuguesa. Zeferino Boal fez questão de apresentar, em números financeiros e quantitativos, o saldo do trabalho de Carlos Freitas no Sporting: um repertório avassalador de jogadores e retorno virtualmente nulo e com claro prejuízo financeiro para o clube. Nenhuma contratação de Carlos Freitas produziu retorno financeiro, por exemplo, o que por si só elimina a capacidade de visão e de adquirir jogadores com potencial. Contratou Liedson, é verdade, mas tal não chega para um clube como o nosso.

Afirmou que viver com receitas antecipadas não é solução, mas integra na sua lista quem consentiu com tamanha brutalidade administrativa. Aparentemente, o SCP tornou-se pródigo em antecipar receitas.

Fez questão de referir que conhece profundamente as contas do clube (por intermédio do anterior presidente, José Eduardo Bettencourt, que depois ordenou Nobre Guedes que facultasse informações à candidatura de Godinho), mas, e tal não me surpreende, necessitou de ser corrigido por Bruno Carvalho na questão dos VMOC, nomeadamente no prazo possível de execução. Godinho afirmou que a execução seria em 2016, quando, na realidade, tal pode ocorrer em 2013. Ou seja, em 2013 o Sporting Clube de Portugal pode deixar de ser o principal accionista, e portanto principal e único decisor, na SAD. Estaríamos perante um paradoxo incrivelmente difícil de justificar ou explicar: o clube de futebol que não controla a equipa de futebol.

A questão do pavilhão foi tratada com alguma confusão. Admitiu que teve conversas com o arquitecto responsável, mas não deixou evidente a ideia de, de facto, avançar com o pavilhão, algo que por si só revela a sua incapacidade de providenciar um Sporting verdadeiramente identitário.

Concluindo, Godinho Lopes é um grotesco erro de casting (e eu saúdo tal erro). Não é carismático, bem pelo contrário, possui uma imagem algo fragilizada, não tem o dom da palavra e o seu carácter permanece visivelmente ligado a momentos negros da história do clube. Tentou passar a ideia de que era um dos principais arquitectos da conquista do campeonato nacional de 1999/2000, algo que Dias Ferreira, principalmente, e Zeferino Boal prontamente desmentiram. Godinho Lopes é uma fraude presidencial e em momento algum pode ser seriamente tido em conta como a derradeira solução para este Sporting contaminado pela gestão Roquete.

Zeferino Boal

Primeiro, aproveito para ir em direcção contrária a parte considerável da blogoesfera leonina. Jamais ridicularizarei este candidato. Ponto essencial: é sócio do Sporting, o que hoje é um estatuto associativo em gradual desaparecimento, e é coerente, tendo demonstrado que votou sempre contra a linha Roquete, incluindo a altura em que este deu verdadeiro impulso ao seu dúbio e, agora factual, ruinoso projecto.

Penso que esta candidatura serve um objectivo inteiramente diferente. Podendo ser paradoxal nesta análise, Zeferino Boal, sócio há 30 anos do nosso clube, esta candidatura é uma não-candidatura. Zeferino Boal é um livro de factos: demonstrou, através de gráficos, a evolução brutal do passivo do Sporting, salientando as épocas em que Godinho Lopes dizia ter feito um bom trabalho.

Pretende ser remunerado, mas em valor inferior auferido pelo Presidente da República (cerca de 5000€/mensais).

É sócio da APAF (Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol), afirmando que fala e conhece membros da mesma. Pretende dar a Mário Moniz Pereira o naming do pavilhão, algo com que eu concordo (já defendi exactamente o mesmo, em outras alturas, nomeadamente na era Soares Franco), mas que, fruto da necessidade de assegurar financiamento ao mesmo, é impossível de acontecer.

Não possui o dom da palavra, mas é preciso reconhecer que não é propriamente uma figura pública, um nome que vagueie constantemente pelas televisões e pelos jornais, pelo que é perceptível e justificável algum problema em comunicar de forma regular.

É um nome que respeito, claro, é um sócio do Sporting que, em pleno direito, decidiu candidatar-se à presidência do nosso clube. Temos 30.000 sócios estatutariamente habilitados a candidatarem-se, Zeferino Boal foi um dos 6 que realmente o fez. Uns criticam, cospem bitaites e futilidades, outros, como Boal, avançam. E tendo perfeita noção de que, no fundo, o seu objectivo essencial é outro: informar os Sportinguistas.

Por isso, que não é pouco, merece a minha consideração.

Dias Ferreira

A sua prestação opinativa nos últimos anos manchou definitivamente o seu elã de coerência e Sportinguismo pragmático, principalmente quando chamado a comentar assuntos relacionados com decisões de Bettencourt, restruturações financeiras, etc.

No entanto, parece-me que Dias Ferreira se posiciona nestas eleições como um candidato anti-continuidade, apesar de forma e conteúdo marcadamente menos veemente que candidatos como o Bruno Carvalho, Abrantes Mendes e Zeferino Boal.

Tem o dom da palavra, nem que tal tenha origem na sua longa experiência em televisão, quase sempre como representante do nosso clube. A sua imagem e postura são por mim apreciadas. Nunca esquecerei a forma como, na altura num programa denominado Gregos e Troianos (predecessor do Prós e Contras, transmitido na RTP, programa de credível reputação nacional), confrontou e denunciou um dos rostos originais do famigerado “sistema” – associação informal de mafiosos com cargos no panorama futebolístico português –, Valentim Loureiro. Dias Ferreira, nesse programa, disse tudo. Valentim Loureiro, como mafioso invertebrado que é, mais não pode fazer do que soltar uns quantos arrufos incompreensíveis.

Dias Ferreira iniciou a sua participação evocando uma frase que serviu de missão fundamental à construcção e idealização do futuro do Sporting Clube de Portugal, frase proferida por Visconde de Alvalade, um dos fundadores do nosso vitorioso clube : "Queremos que este Clube seja um grande clube, tão grande como os maiores da Europa.” Evocou tal frase com o objectivo de assinalar que o Sporting caminha para um estado desprovido de identidade e reconhecimento.

Não será remunerado, mas fez questão de, e com tal marcou uma posição repetida por outros candidatos, afirmar que quem o pretende ser não merece críticas da sua parte. Excelente atitude, devo dizer.

Foi incapaz de apresentar soluções concretas em relação à desafiante situação financeira do Sporting, tendo sempre utilizado argumentos de ordem pragmática para escapar às explicações. Foi o único ponto menos positivo na sua presença, mas penso que, fruto da grandeza institucional do Sporting, será obrigado a clarificar tal assunto mais tarde, provavelmente durante a próxima semana, dado que, de acordo com o candidato Godinho Lopes, haverá um encontro, a 10 de Março, com o objectivo de explicar a real situação financeira do clube.

O ponto positivo, a meu ver, é a sua paixão pelas modalidades e, mais importante, o entendimento que as modalidades são fulcrais à essência do Sporting e à valorização da identidade Sportinguista. Admitiu que o pavilhão, com ele, avançará. Admitiu que procurará efectivar o ressurgimento do basquetebol e do voleibol, sendo que esta última poderá possuir a contribuição de Miguel Maia, glória do desporto e assumido Sportinguista.

Parte 2 deste post será apresentada mais tarde, que incluirá o seguinte: Pedro Baltazar, Abrantes Mendes, cenários hipotéticos e questões por responder.