Godinho Lopes é um avião sem sistema de navegação. Com um rosto de medo e rápido a caminhar até à saída, afirmou, acabado de chegar ao aeroporto de Lisboa, que nada iria acontecer ao treinador. No dia a seguir, já protegido pelo afastamento físico de quem o contestava no aeroporto, menosprezou a justa contestação e, tal e qual JEB nos últimos tempos da sua miserável e empobrecedora administração, optou por ofender os “30 adeptos”. Mais um dia passado após a contestação, despede o homem que antes tinha garantido permanecer no lugar, supostamente imune ao mau momento. É isto a Linha Roquete: loucura decisorial e desrespeito pelo Sporting e pelos seus adeptos.
"O Sportinguista, em mais de 100 anos de dita escolha, jamais ousou queimar ou detrair o símbolo e a cor que o identificam. Outros, os tais que clamam superioridade moral e identitária, fizeram-no.", dito por pai de Daniel.

17 de janeiro de 2011

Considerações humildes…[1]

Primeiramente, devo começar por admitir que não votei em José Eduardo Bettencourt; votei no único, verdadeiro projecto que foi apresentado aos sócios do Sporting, o projecto da lista Ser Sporting. Votei no último não pela sua principal figura, Paulo Pereira Cristovão – pessoa que desconhecia –, mas pelo pelo valor das intenções, pelo rumo que se pretendia enveredar. Refiro único porque, como deverão concordar, a lista que venceu as eleições não apresentou um projecto no verdadeiro sentido da palavra, apresentou uma lista genérica de intenções deveras simples e sem conteúdo, um conjunto de frases retóricas, intenções universalmente fáceis de redigir. A lista que venceu as eleições fê-lo devido ao rosto principal da mesma, não pelas propostas/ideias que apresentava. No fundo, não apresentou nada de novo, tendo até plagiado algumas à lista então existente, Ser Sporting.

No entanto, devo admitir que nem sempre pensei assim: quando o Congresso do Sporting tomou lugar, lembro-me perfeitamente de, entre encontros com amigos Sportinguistas, referir que não rejeitaria a possibilidade de José Eduardo Bettencourt se candidatar a presidente do nosso clube, talvez com Luís Duque ao seu lado. Refiro Luís Duque porque, colocando de lado apreciações individuais que ganham valor à luz de recentes revelações, este parece-me ter sido o único dirigente dotado de conhecimentos capazes de mobilizar o Sporting para lutar pelo título: conhecimentos meramente desportivos, relacionado com a gestão da vertente futebolística do clube; e conhecimentos, digamos, “conjunturais”, relacionado com os podres do futebol, com a defesa do institucional do clube perante os organismos que, corrompidos pela escumalha vermelha e azul, regem o nosso futebol. E explico a razão pela qual defendia o nome de JEB: na altura do consulado de Filipe Soares Franco, lembro-me perfeitamente de uma entrevista que JEB concedeu ao jornal não-oficial do Benfica, A Bola. Nesta entrevista, divulgada no auge da restruturação financeira proposta por FSF (a tal que permitiria que a principal promessa deste presidente, o passivo de 150 milhões de euros, fosse alcançada), José Eduardo Bettencourt criticava vários aspectos da administração FSF: a falta de conteúdo Sportinguista na mensagem; a excessiva preocupação em divulgar a situação financeira do clube; e o crescente desaparecimento da vertente eclética – essencial, como oxigénio a um ser humano – do clube. Esta entrevista, admito, agradou-me. Gostei. Aprecio a tentativa de comunicar mais com as bases do clube, o mero adepto. Considero essencial a miscigenação de dois estilos de liderança: populismo e seriedade. Olhemos para o principal utilizador de casas de noite do Norte: salvo a óbvia conduta indigna e pouco ética, a combinação das duas características recentemente descritas é óbvia.

JEB foi eleito. Não com o meu voto, não com o meu bater de palmas, não com o meu pleno assentimento, mas certamente com o meu respeito, não fosse eu um adepto incondicional do sufrágio, político ou desportivo. JEB saltou, cantou, bateu palmas. Admito que não vejo com maus olhos tais atitudes, por mais imbecis e infantis que possam parecer aos olhos de alguns. Como disse no parágrafo anterior, não rejeito a ideia de um presidente com atitudes populistas, e nem todos, como eu, apreciam uma postura inteiramente formal, presidencial. Um pouco de brincadeira não faz mal a ninguém. O Sporting Clube de Portugal é um clube do povo, é certo que foi fundado por pessoas de outra classe social, mas é certamente um clube com milhares de adeptos oriundos das várias classes sociais, de todas as cidades e localidades deste Portugal, de todos os locais onde se encontram portugueses. Somos um clube socialmente transversal, não nos encontramos enclausurados a uma cidade, um distrito, uma classe social. Somos de Portugal, não de Lisboa. E devemos tal grandeza ao nosso passado, às nossas conquistas, não a um homem, uma década, um jogador, etc. Costumo dizer: Sporting Clube de Portugal, Grande desde 1906. Eu digo-o, a história, felizmente, confirma-o.

Bettencourt tomou posse. O que se seguiu, não interessa em que vertente se cinja a análise (desportiva, financeira, comunicacional), foi um autêntico terramoto, um cataclisma desportivo, principalmente, e clubístico. Considerando eu que o treinador é, depois da figura do presidente, o vértice mais importante num clube, JEB fez questão de, depois da equipa nos presentar com dois anos de futebol penoso, prometer que Paulo Bento era forever (como inglês, para mim é “for ever”), que, apesar dos resultados serem miseráveis e ofensivos à instituição e aos adeptos, Paulo Bento permaneceria no cargo. A consideração acerca do fundo de jogadores do Benfica, catalogando-a como dúbia, foi outro dos erros de Bettencourt. A verdade é que JEB acabou por negociar com a banca a criação de fundo para o Sporting Clube de Portugal – esqueçamos a valorização caricata de um dos nossos melhores jogadores, Daniel Carriço, valorizado em 6 milhões de euros, menos que o valor dado pelo super-avançado Sinama Pongolle; ou seja, mais do mesmo, mais gestão sem critério, mais gestão sem resultados que o justifiquem. Num clube contabilisticamente falido, todo o capital existente é pouco. No fundo, toda e qualquer decisão que se conclua em despender dinheiro deve ser alicerçada e consubstanciada com os mais rigorosos e éticos critérios. Nada disto aconteceu: Pongolle custou 6,5 milhões de euros, foi aconselhado ao Sporting por todos menos pelo departamento encarregue de tal, foi pouco utilizado pelos treinadores de então, acabando por ser emprestado – numa altura onde escasseava a eficácia ofensiva e o número de jogadores para a posição – a um clube espanhol. A contratação de João Pereira não foi errada, isto do ponto de vista prático, isto é, considerando o jogador, nada mais. Financeiramente, a outra vertente do negócio, não me parece ter sido minimamente sã: 3 milhões de euros por um jogador em fim de contrato. Se recorrermos ao baú sórdido, nomes saltam: Wender, João Alves, Abel… nomes que custaram milhões e que produziram tostões.

2ª parte amanhã ou Quarta-Feira.