Godinho Lopes é um avião sem sistema de navegação. Com um rosto de medo e rápido a caminhar até à saída, afirmou, acabado de chegar ao aeroporto de Lisboa, que nada iria acontecer ao treinador. No dia a seguir, já protegido pelo afastamento físico de quem o contestava no aeroporto, menosprezou a justa contestação e, tal e qual JEB nos últimos tempos da sua miserável e empobrecedora administração, optou por ofender os “30 adeptos”. Mais um dia passado após a contestação, despede o homem que antes tinha garantido permanecer no lugar, supostamente imune ao mau momento. É isto a Linha Roquete: loucura decisorial e desrespeito pelo Sporting e pelos seus adeptos.
"O Sportinguista, em mais de 100 anos de dita escolha, jamais ousou queimar ou detrair o símbolo e a cor que o identificam. Outros, os tais que clamam superioridade moral e identitária, fizeram-no.", dito por pai de Daniel.

2 de março de 2012

Sobre o jogo entre as forças da Corrupção: como um Sportinguista consegue, de maneira sincera, explicar este jogo

Escrevi numa anterior mensagem que uns amigos meus convidaram-me para marcar presença no jogo entre  Benfica e  Porto, que terminou com a vitória do clube cujo treinador havia, há poucas semanas, dito que as faixas de campeão podiam já ser encomendadas pelo clube visitado. Não foi a primeira vez que estes meus amigos o fizeram, não será, espero eu, a última, mas as amizades, quando são genuínas, merecem determinados sacrifícios, embora esses amigos me perguntem, como um “eu dou, tu dás”, quando será o dia em que eu os convidarei para verem um jogo entre o Sporting e o Porto. A pergunta é feita ano após ano. A minha resposta aos ditos convites é sempre a mesma: não me levem a mal, mas eu não quero benfiquistas no meu estádio. Não consigo ver um jogo do Sporting passivamente, disposto a esquecer-me, nem que por brevíssimos momentos, o que está a acontecer em campo para comentar este ou aquele acontecimento de uma maneira mais analítica. Mas como desejo ser tão amigo deles como eles são em relação à minha pessoa, encontrei alternativas: jogos da equipa nacional, nos quais as minhas intervenções se focam na contribuição dada pelos jogadores formados no Sporting Clube de Portugal: Ronaldo, já superior ao Eusébio, Nani, Patrício, e por aí fora.

O convite foi feito novamente. Eu aceitei-o. Não me sinto de todo um traidor por fisicamente estar presente numa partida que opõe os dois principais rivais do Sporting. Bem pelo contrário, sinto-me como um elemento purificador. Mas a minha capacidade purificadora, por assim dizer, é deveras limitada. Sou um entre 59.996 (o grupo de amigos, os três lampiões e eu) humanos nefastos. Não chego para toda a toxicidade presente numa partida como a que terminou ontem à noite. As minhas impressões sobre este jogo entre rivais não variam de época para época, de jogo para jogo, apesar de os últimos dois jogos entre estes clubes, em casa do clube ontem visitado, puderem ser considerados decisivos por ambas as partes. Este foi, em termos de ambiente, o mais fraco Benfica vs Porto dos últimos anos. Porém, o espectáculo em campo compensou as insuficiências das outras vertentes da partida. Como elemento neutro, esperava poder presenciar um festa diversificada. Esperava ver lampiões à cabeçada com tripeiros. Cinco ou seis calhaus pelo ar. Umas quantas garrafas de cerveja. Até uns petardos e umas tochas. Não vi nada similar. Cá fora, com os meus olhos a latejarem por causa do vermelho que me rodeava, todos pareciam estar sob o efeito de calmantes. Parecia que era apenas mais um jogo em que a equipa da casa iria beneficiar da ajuda do árbitro assim que a equipa adversária demonstrasse capacidade para discutir a repartição dos três pontos. “Ai sabes jogar à bola, é? Então toma lá disto: piiiiiiiii, estás expulso e grande penalidade assinalada a favor do Benfica.”

Perguntam agora vós: vestiste o quê? Foste de vermelho, caralho, para seres simpático para os teus amigos e tal? De azul? Preto? Nem uma nem outra. De verde, ora pois! Calças de ganga, botas da Timberland (umas brancas a que o tempo e falta de lavagens constantes trataram de escurecer) e um casaco verde da Adidas. Um verde autenticamente verde. Nem muito escuro, tipo espinafre, nem muito claro, tipo lima. Verde Sporting, digamos. Identificável a todas as distâncias. De longe, de perto, de cima, de baixo. E os olhares questionadores que muitos lampiões me lançaram confirmaram-no. Ah, e outro pormenor muito interessante: as meias, cobertas totalmente pelas calças de ganga, eram as do Sporting, do equipamento principal do nosso clube. Alguma coisa 100% do nosso clube eu tinha de levar. Este ano foi um par de meias, no anterior tinha sido uma t-shirt.

Falemos então do jogo Benfica vs Porto. Escreverei, a seguir, não sobre o jogo de futebol em si, mas sobre o ambiente destes jogos. E vou ser o mais sucinto e frontal possível, pelo que acho útil pontuar cada uma das minhas opiniões sobre o ambiente:

  1. Os Super Dragões não valem um chavo. 80% dos cânticos, de longe os mais cantados pelos adeptos portistas, são contra o Benfica. Outros 15% são a favor do Pinto da Costa. E os restantes 5% não consegui perceber o que eram. Um grupo de Sportinguistas faria uma festa épica se o Sporting sacasse da Luz um resultado como aquele, e como aconteceu (reviravolta).
  2. Eu consegui ter, nesse mesmo dia, mais pessoal na minha mesa de almoço, no Centro Comercial Allegro (visitem o restaurante Hollywood!), do que os Diabos Vermelhos no seu sector (só aparecem em números não-vergonhosos contra o Sporting).
  3. Os que Não Têm Nome não têm também voz.
  4. O Jorge Jesus ou é mesmo um treinador que gosta de esbracejar freneticamente e gritar durante os 90 minutos, como se no balneário nenhuma táctica tivesse sido construída, ou o homem padece de um problema nervoso qualquer.
  5. Não há nenhuma outra massa associativa como os benfiquistas para gritar por nada de interessante.
  6. Sejam quais forem as variáveis de um Benfica vs Porto, um Benfica vs Sporting é sempre mais presenciado e o ambiente é único, e assim o é por causa dos adeptos do Sporting, cuja força das vozes não tem fim.
  7. Os adeptos do Sporting, se lhes estivesse reservado um sector naquele estádio, cantariam mais que os portistas e os benfiquistas juntos.
  8. Eu fiz mais barulho que os 7000 e tal lampiões daquela bancada…quando fui ao quiosque buscar dois cachorros.
  9. 95% das benfiquistas são esteticamente…como é que posso escrever isto sem parecer demasiado ofensivo…problemáticas.
  10. A maioria dos benfiquistas entoou cânticos racistas contra o Hulk. Ou isso ou querem que o Vieira o contrate. E os mais audíveis provinham de uma bancada cuja claque tem números substanciais de gente oriunda do continente africano.

O que mais ouvi dos lampiões quando estava no interior do estádio e enquanto saía do recinto e me dirigia para o carro (no estacionamento do Colombo):

“Enraba-o.” [quando o Gaítan tinha a bola e estava perto do A.Pereira]
“Preto do caralho!” [para o Hulk]
”Eu sempre vos disse que o Jesus era uma merda.”
”O Vitor Pereira é melhor que o Villas Boas.”
”Preto do caralho!” [para o Rolando, que saiu do campo a provocar a lampionagem]
”Nunca mais nos vemos livres do Jesus. É como o Paulo Bento, está cá forever!”
”O Cardozo marca golos mas não sente a camisola.”
”É melhor despachar agora o Gaítan antes que percebam que ele só sabe jogar à bola uma vez por mês.”
”O Garay fugiu, saiu porque não teve colhões para aguentar a pressão.”
”O Rui Costa desapareceu. O Vieira lobotomizou-o.”
”O Veiga era mafioso, mas faz cá falta.”
”Maria, perdemos 3-2. Maria? Estou?” [lampião ao telefone com a, penso eu, esposa]

Os meus comentários aos meus colegas durante e sobre o jogo:

“Vocês estão a jogar com dois defesas no lado direito: O Maxi e a mosca dele.”
”O Jesus hoje tentou ser o Kasparov do futebol. Mas o Vítor Pereira fez de Deep Blue.”
”Mete o Mantorras!!”
”Mete o Yannick!”
”Vai haver mais um golo, garanto-vos.” [enquanto estava 2-2 e eu apostava 100€ na betfair em como seriam marcados mais de 4,5 golos]
”Deixem-me sair primeiro, se faz favor!” [gritava eu aos adeptos do Porto quanto estes pediam para que a luz do estádio fosse apagada]

Falemos agora do jogo de futebol em si. Não consegui perceber se o domínio que o Porto fez sentir no inicio do jogo foi mérito da própria equipa, ou se o Benfica consentiu-o. Parece-me antes que o Porto dominou porque assim o desejava e porque o Benfica entrou na partida receoso. O Benfica demonstrou-se incapaz de circular a bola porque o seu meio-campo, pondo de lado um jogador que nunca defende senão em bolas paradas, Pablo Aimar, só se preocupou em tentar anular o meio-campo do Porto.

Com a transferência de Lucho do Marselha para o Porto, a máquina dos tripeiros é uma coisa completamente diferente, para melhor, em total oposição à merda que o Porto vinha praticando em todos os estádios deste país, e que só a arbitragem conseguia atenuar. E nem se trata de louvar o Lucho enquanto jogador e aditivo ao colectivo de jogadores do Porto (todos o reconhecem como excelente jogador), mas antes de salientar as outras muitas vantagens que os outros jogadores do mesmo sector fazem proporcionar à forma como jogam. O Maçã Podre, antes um faz-tudo vadio, é agora um faz-tudo criterioso. Com Lucho em campo, o Porto ganha eficácia no passe e inteligência no posicionamento. Visto ao vivo, é fenomenal a capacidade posicional do Lucho Gonzalez. O homem raramente corre, mas consegue estar em todo o lado, no momento correcto. O Fernando, nunca tido como um jogador hábil com a bola nos pés, até sabe fazer umas quantas coisinhas interessantes. Não se esperam dele passes longos e em desmarcação, mas é um médio perito em desarmar jogadores no um para um (melhor que ele só o Rinaudo) e a soltar a bola para um jogador que sabe o que fazer com ela, ou Lucho ou Moutinho.

O Benfica entrou receoso, talvez demasiado pensativo para uma partida em que tinha a obrigação de dominar as motivações do jogo. Jogava em casa, perante o seu público. Achei do mais arrogante possível, apesar da rivalidade entre os presidentes e os treinadores de ambos os clubes, a conferência de antevisão do Jorge Jesus. Quando questionado sobre se as presenças de Lucho e Janko tornavam o Porto mais forte, Jesus optou por menosprezar as ditas transferências, particularmente a de Lucho. É óbvio para qualquer apreciador deste desporto, até aquele cujo fanatismo o impede de construir uma análise minimamente lógica, que a época 2011/2012 do Porto ficará marcada por duas versões do próprio clube: pré-Lucho e pós-Lucho. O Porto que vigorou durante a primeira parte do campeonato seria vergado até pelo Benfica menos motivado da presente época.

O curioso é perceber que o melhor Porto até agora defrontou o pior Benfica até agora. O Porto proporcionou ao Manchester City um jogo complicado. No Dragão, a equipa do Porto foi dominante, demonstrou iniciativa. Melhor que demonstrar iniciativa, é saber construi-la. E o Porto fê-lo. Com Lucho já na equipa, não se esqueçam. A eliminatória foi decidida por aquilo que quantias enormes de dinheiro oferecem: jogadores de qualidade mundial. O Benfica que perdeu contra o Porto esteve irreconhecível quando comparado ao que defrontou o Manchester United em Inglaterra, por exemplo, ou até o Porto, na primeira fase do campeonato. O Benfica e o Porto são os clubes de quem regula o futebol. O inicio de campeonato de ambos foi marcado por ajudas que permitiram a Porto e Benfica garantirem pontos em jogos complicados. Contra nós, claro, acontecia o contrário, apesar de admitir que a qualidade do nosso futebol era então muito insuficiente. Mas os campeões não vencem bem todos os jogos que disputam, não é? Estrelinha de campeão, como se diz várias vezes neste desporto.

Pude ouvir pela rádio, num carro de ocupantes em silêncio quase nunca interrompido, que o Jesus culpou inequivocamente o fiscal de linha pela derrota. Jesus afirmou que o fiscal permitiu um golo ilegal do Porto propositadamente, o golo de Maicon que fez saltar o Porto para a frente do resultado. O Presidente Vieira, o tipo que os lampiões no estádio diziam ter lobotomizado o Rui Costa (até que concordo, por acaso), decidiu também culpar os árbitros, mas apontou a mira ao árbitro principal, o sócio do Benfica Pedro Proença. O Pedro Proença, importa recordar, apitou o Sporting vs Porto, e o lance mais prejudicial da partida foi, como é de esperar, a favor do Porto, quando um Elias isolado frente a Helton foi impedido de continuar por fora-de-jogo barbaramente (repito: barbaramente) mal assinalado.

Quando o Porto fez o terceiro golo, ninguém protestou. Deixemos claro este facto: ninguém, seja nas bancadas, no banco de suplentes do Benfica ou no campo, protestou com o árbitro. Preferiam antes, pelo menos alguns jogadores mais indispostos com o resultado, agacharem-se e colocarem a mão sobre a cabeça, em desespero. No entanto, isso não torna válido o erro. E foi de facto um erro. Maicon estava em fora de jogo. Estava uns 20 centímetros à frente do defesa do Benfica. Por esta mísera distância entre um e outro se percebe que a decisão está longe de ter sido propositadamente tomada contra o Benfica. Quando o Sporting protestou, fazendo-o sempre com respeito e razão, as arbitragens manhosas de que vinha a ser alvo, a arbitragem engendrou um nojento boicote contra o nosso clube. Muitos árbitros, incluindo os mais conceituados (em nome só, porque competência é coisa que as gentes do apito nunca ouviu falar), abstiveram-se de apitar os jogos do Sporting. O nosso clube, o nosso amado e nunca ajudado – nem o queremos! – clube, foi forçado a, conjuntamente com o adversário que a jornada ditava, requisitar um voluntário da função de árbitro para apitar a partida. Luis Filipe Vieira, depois de ver o seu clube incinerar 5 pontos de vantagem sobre o Porto e transformá-los em 3 de distância, abriu a sua boca pestilenta e criticou os árbitros. Esperemos para ver o que vai acontecer.

Eu sei. Nada. Até porque a imprensa de amanhã, com o Jornal A Bola a guiar o carro dos lampiões agastados, tratará de lançar sobre Pedro Proença a apreciação de que a arbitragem prejudicou severamente o Benfica, vitimizando esta corrupta instituição desportiva. Não aconteceu tal, devemos dizê-lo. Por exemplo, é incrível como Pedro Proença não expulsou o Maxi Pereira depois de este ter dado um soco, acto vísivel de todo os lados, ao Janko. Proença viu o lance, mas decidiu terminar a partida e esquecer o cartão vermelho. Djalma, ao fazer falta sobre um jogador do Benfica perto da área, não merecia o vermelho directo. Ao contrário do que o jornal Record benfiquisticamente escreve, a expulsão de Emerson não empurrou o Porto. O Porto já estava em cima do Benfica minutos antes do defesa-esquerdo ser, e bem, expulso. Naturalmente que a capacidade de contra-ataque do Benfica foi eliminada após a expulsão.

Os lampiões, 95% deles, são uma classe de adeptos muito estranha. E trata-se de um “estranho” pouco simpático, entendam. Queixam-se de tudo. Foram beneficiados em muitos jogos só nesta época. Os tripeiros, contudo, não são tão hipócritas quanto os benfiquistas. Sabem, bem lá nos escombros das suas consciências, que o sucesso do FC Porto tem fundações ilegais. Devem tudo ao Pinto da Costa. O Pinto da Costa é maior que o FC Porto. Quando sair, não sei com total certeza o que vai acontecer, mas sei que nada será como antes, e o sucesso contemporâneo será transformado em matéria de museu…que não existe. As gentes do FC Porto abandonarão o clube de forma célere.

Pronto, é esta a visão de um Sportinguista que marcou a presença num jogo de futebol interessante, no entanto algo oco em sentimentalismo. Como faz falta a este campeonato um Sporting à Sporting, capacitado para colocar as escumalhas azul e vermelha a lutarem pelo segundo lugar. Queria o resultado mais benéfico para o Sporting, o empate. Pena que não aconteceu.

Adenda: o Rui Costa afinal não desapareceu nem foi lobotomizado, mas está com uma fome que alguns podem vir a considerar sobre-humana:

Força Sporting, que hordas de tripeiros e, juntos numa mistela repugnante, lampiões não valem um décimo de um Sportinguista!