Godinho Lopes é um avião sem sistema de navegação. Com um rosto de medo e rápido a caminhar até à saída, afirmou, acabado de chegar ao aeroporto de Lisboa, que nada iria acontecer ao treinador. No dia a seguir, já protegido pelo afastamento físico de quem o contestava no aeroporto, menosprezou a justa contestação e, tal e qual JEB nos últimos tempos da sua miserável e empobrecedora administração, optou por ofender os “30 adeptos”. Mais um dia passado após a contestação, despede o homem que antes tinha garantido permanecer no lugar, supostamente imune ao mau momento. É isto a Linha Roquete: loucura decisorial e desrespeito pelo Sporting e pelos seus adeptos.
"O Sportinguista, em mais de 100 anos de dita escolha, jamais ousou queimar ou detrair o símbolo e a cor que o identificam. Outros, os tais que clamam superioridade moral e identitária, fizeram-no.", dito por pai de Daniel.

29 de abril de 2012

Para ti, meu Querido Papá Fernando (1956-2012)

Sem Título

Só agora tive coragem, e depois de pensar se o faria ou não, de vir aqui, um espaço público, escrever sobre uma das pessoas mais importantes da minha vida. Essa pessoa é o meu pai Fernando, o meu papá, como sempre o tratei, em público ou em privado, que me deixou no dia 14 de Março de 2012, a escassos dias do Dia do Pai. Deixou-me a mim e à minha mãe, nós que éramos muito unidos, uma tripla que falou entre si durante todos os dias, sem excepção. Uma tripla que, quando junta, brincava e sorria, brincadeiras de crianças, felicidade de criança inocente que só conhece o bom que a vida tem para oferecer. Era incrível como sorríamos entre nós todos os dias. O meu pai tinha um sentido de humor muito activo, que se adaptava a toda e qualquer situação que lhe acontecia (uma das muitas boas características que herdei dele) que se adaptava a qualquer circunstância do dia. A minha mãe também. Eu também. Juntando estes três, a felicidade e a brincadeira estavam garantidas.

Sou obrigado a parar de escrever. Estou a chorar, estou a soluçar. Pensei que ia conseguir fazer isto de uma só vez. Choro por saber que não mais vou ouvir a voz do meu pai, que não mais vou ver um jogo do Sporting com o meu pai ao meu lado, ambos a sofrer com o nosso clube.

Quando uma pessoa falece, quem dele fala costuma sempre recordar o bom, as memórias felizes que aconteceram. Quando uma pessoa falece, o menos bom dessa pessoa é como que apagado e apenas o bom é mencionado. Ora bem, essa comum banalização não tem que acontecer com o meu pai. Não. Nunca. Era de facto um pai excepcional, diferente da maioria. Não o digo porque o quero tornar especial. Digo-o porque o meu pai era de facto, e não é preciso qualquer apagamento, especial. Esteve sempre do meu lado, dando-me conselhos, pedidos ou não. Era pai, amigo, conselheiro, tudo ao mesmo tempo. Não posso escrever que o meu papá era o melhor do mundo. Não conheço todos os outros pais, mas conheço muitos, cada um com o seu feitio. Mas o meu, e que eu morra de uma doença dolorosa se estiver a mentir, era excelente. Era um fenomenal pai, um marido atencioso e fiel, um empresário trabalhador, um filho dedicado, um familiar preocupado, um Sportinguista do mais genuíno que pode existir.

Uma pessoa nunca sabe muito bem o que pensar quando o cenário da morte de um seu familiar, ainda por cima um tão especial e amado como o meu papá, se torna possível de acontecer. Um olha para si mesmo e pensa que, por alguma razão que se lhe escapa, é especial, diferente de todos os outros. Que o mal apenas vai bater à porta dos outros. Tenho 23 anos de idade, estou a mais ou menos um mês de fazer 24 anos. Durante toda a minha vida falei sempre, todo e qualquer dia do ano, com o meu pai. Estivesse fora de Portugal, muito longe ou então perto, todos os dias telefonei ao meu pai e mãe para falar com eles. Mas não consegui falar com ele no último dia da sua vida. Os médicos não deixaram que eu o visse.

O meu pai fumava muito, um filho da puta de hábito que aprendeu na Marinha. Fumava 2 maços por dia. Foi-lhe diagnosticado cancro do pulmão em Novembro passado. Hipocondríaco como era, em que qualquer dor no corpo era sinal de um mal terrível que se escondia, cedo e rápido se deslocou ao hospital. A tosse era muita, anormal até para um fumador. Fez os respectivos exames. O médico disse-lhe toda a verdade. O meu pai assim o exigiu, porque o receio de constantes mentiras ditas por médicos no passado, quando o tio dele faleceu por semelhante mal, atormentavam-no. Fez a quimioterapia respectiva no Hospital Pulido Valente. 5 horas consecutivas de tratamento, com a minha mãe sempre ao seu lado, antecedidas por um dia de exames e seguida de um dia de “purificação”. O médico, antes de a quimioterapia começar, “proibiu-o” de trabalhar. Mas o meu pai, e eu estranharia o contrário, ignorou o conselho do médico e continuou a sua vida como sempre: muito trabalho, responsabilidade, e nem pensar em ficar em casa enquanto os outros, principalmente a minha mãe, trabalhavam. Não o fazia com a mesma energia, porque essa era-lhe em parte roubada pelo tratamento, mas a vontade e a motivação eram mais fortes do que nunca.

Lembro-me perfeitamente do dia em que o pai me contou que tinha um cancro no pulmão. Eu sabia daquela tosse fora do comum até para um fumador regular, já tinha ouvido a maldita em várias ocasiões, sempre dizendo ao meu pai que ir ao médico tinha de ser uma prioridade. “Já marquei a consulta”, disse-me ele. Lá foram os dois à dita consulta, meu pai e minha mãe, ambos sempre juntos quando algo de menos positivo acontece. O meu pai fez os respectivos exames. Como me senti eu nesse dia? Preocupado, mas pouco perturbado porque o meu pai era um cliente assíduo das máquinas que nos dizem se o futuro vai ou não ser simpático para o nosso corpo. No dia em que o pai fez os exames, eu não estava em Portugal, ou teria ido com ele e minha mãe ao hospital. Liguei-lhe a perguntar como foi, se ele estava bem e como estava a “madrezita”. Disse-me que tudo estava bem, que os exames correram bem, ou seja, a típica resposta de quem faz os exames e não sabe os resultados. Tudo normal, portanto.

Estando eu já em Portugal (o nosso Sporting jogava essa semana em Alvalade), mas a trabalhar, o meu pai recebeu um telefonema do médico a pedir a sua presença no hospital. Vale a pena contar-vos porque não fui com ele à dita chamada do médico. Não sabia dela. O meu pai e a minha mãe não me contaram nada. Eu sou daqueles que se preocupa apenas com os pais, que se vai abaixo quando algo de mau lhes acontece, mas que nada sente quando a sua própria vida vai menos bem. Perturbo-me muito pouco com os meus “problemas”, mas reajo mal, muito mal, quando algo atinge o meu pai ou a minha mãe. Vou-me abaixo. Desmotivo-me facilmente. Sendo eu assim, os meus pais não me disseram nada, tentando resguardar-me de uma situação que em condições normais daria em mais alguns exames que nada de muito grave apontariam. Chegado a minha casa, o meu pai e a minha mãe estavam perto do portão de entrada. Estranhei, claro, até porque um simples telefonema seria o suficiente para me avisarem da sua visita. Ao passar a curva que vai dar à rua onde habito, olhei para eles os dois, juntos, perto do carro do meu pai. Vi-os a trocarem confidências. Soube logo que algo não estava bem. A minha cabeça imediatamente raciocinou o que havia a raciocinar: exame, tabaco, pulmão, presença estranha. Algo não está bem. Os maus momentos ficam-nos gravados na memória, todo e qualquer segundo do mesmo. Os sentimentos também. Encostei a cabeça ao volante e pensei o pior. Mas admito que o meu pior não incluía a possibilidade de o meu pai ter um cancro no pulmão.

Cumprimentei-os e, ao mesmo tempo, perguntei se tudo estava bem. Enquanto perguntava, passei rapidamente os olhos pela minha mãe, que tem muita dificuldade em esconder o que lhe vai na alma. O rosto não era simpático, o olhar, triste, confirmou-me que algo não estava bem. O meu pai preferiu dizer “vamos entrar”. Já no interior da casa, os três sentados à mesa, o meu pai disse-me que lhe tinha sido diagnosticado cancro no pulmão. Eu tinha um copo na mão. Esse copo imediatamente caiu ao chão, partindo-se. Comecei a chorar. Parecia uma criança. Porque não queria que o meu pai visse o seu filho de 23 anos de idade a chorar, fui para a sala de estar, a correr. Atirei-me para o sofá, enfiei a cara na primeira almofada que me apareceu à frente. O meu pai entrou na sala, a minha mãe vinha atrás dele. Reconfortou-me à sua maneira, sentando-se ao meu lado e contando-me que tudo iria ficar bem. A minha mãe dizia-me o mesmo.

Passados dois meses após o diagnóstico, o meu pai começou a fazer os respectivos tratamentos. Quando saia do hospital ligava-me para eu poder saber como é que ele se sentia, como tinha sido o tratamento, como estava a minha mãe, o que disseram as enfermeiras, etc. Para perceberem como era o meu pai, conto-vos aqui como foi a primeira vez em que o vi depois do primeiro tratamento. Estava em casa dos meus pais, acabadinho de chegar, quando o carro do meu pai é estacionado na garagem. O meu pai aparece pela porta da mesma.
- Então, como é que correu? – perguntei-lhe eu.
- Estou pronto para outra! – respondeu o meu pai. Atrás dele, a minha mãe ria-se.
Era assim o meu pai. Nunca aceitava a derrota como certa, nem um momento triste como irreversível. E nem pensar em esmorecer! Respondeu-me de formas parecidas em todas as outras ocasiões em que chegou a casa vindo de um tratamento. Sempre a sorrir, sempre bem-disposto.

O meu pai tentou deixar de fumar em várias ocasiões. Nunca o conseguiu, e o melhor que alcançou foram algumas semanas com a dose diária de nicotina reduzida a metade, talvez nem isso. A partir do momento em que soube do seu estado, deixou logo, ali naquele preciso momento, de fumar. Nem ajudas, nem remédios, truques, coisas estranhas, nadinha. Acabou-se o SG Ventil. Drástico. No Dia do Pai, desde que me lembro de lhe escrever um cartão (tenho-os a todos guardados e prontos para serem transformados num gigante quadro que ficará colocado na parede do meu quarto), roguei sempre que ele deixasse de fumar. Sempre. Chegamos a uma determinada idade, quando a responsabilidade é obrigatória, continuei a pedir-lhe que deixasse de fumar, embora não o pressionasse tanto. Era a tal aura de invencibilidade que vos falei há pouco. Fiz mal. Agora que não tenho o meu pai perto de mim e de minha mãe, penso que devia ter pressionado o meu pai muito mais, até ameaçado chatear-me com ele de forma definitiva (embora fosse tudo bluff, como é óbvio). Não tenho dúvida alguma de que o meu pai estaria comigo hoje se o tabaco não fizesse parte da sua vida há 2 ou 3 anos.

Desde muito cedo que o meu pai me incutiu o Sportinguismo que hoje me ajuda a definir enquanto pessoa. O meu pai era sócio do Sporting praticamente desde o dia em que nasceu, proposto pelo meu avô, também ele sócio do Sporting desde idade muito nova. O meu avô é sócio do Sporting há mais de 75 anos. O meu pai educava-me sobre o Sporting quase todos os dias. Fazia-me perguntas sobre a história do Sporting Clube de Portugal. Lembro-me perfeitamente de vários desses momentos, um deles tinha eu uns 10 anos de idade:
- Mais uma pergunta, é? Quem foram os 5 Violinos?
- Era a melhor equipa do Sporting – respondi eu.
- E não só, filho. Foi a melhor equipa que Portugal alguma vez viu jogar. Aqui vai mais uma: qual é o nome daquele jogador que praticava muitos desportos?
- Qualquer coisa Correia? – o apelido eu sabia.
- Jesus Correia. E o nome do jogador que marcava quase todos os golos?
- Peyroteo.
- O melhor avançado que este país viu jogar. Como é dos nossos, não lhe dão o mérito que merece. Preferem o Eusébio. O Eusébio, ouve bem o que te digo, filho, não era nada ao lado do Peyroteo. Mas como jogava no Benfica… Então e o nome daquele homem que está na fotografia vestido de vermelho?
- Travassos.
Apenas uma das centenas de conversas que o meu pai teve comigo sobre o Sporting. Foi doutrinado, e sempre o aceitei com um sorriso enorme na cara, na história do Sporting, no significado do Sportinguismo. Estive presente no infame 3-6, em Alvalade, sentando na bancada central com o meu pai e o meu avô. Chovia bastante nessa noite, os lampiões enchiam a Superior Norte, lembro-me bem, mas o que ficou na memória não foi nem o tempo nem o miserável resultado, mas o que o meu pai me disse depois do jogo, mais ou menos isto:
- Ser do Sporting é isto, filho. É sofrer, sofrer e sofrer até nunca mais.
Muitos anos depois, e chateando-me eu com resultados menos felizes do Sporting, o meu pai respondia-me sempre assim:
- Ainda te esperam muitos anos de sofrimento. Prepara o coração, porque o Sporting nunca nos dará descanso.

E era/é verdade. Qualquer um de nós o sabe. O Sporting é o nosso clube, mas tem aquele doloroso hábito de fazer sofrer os milhões que o apoiam. “Sporting Sempre”, dizia-me também o meu pai após uma derrota do nosso clube. Esses são hábitos que me ficaram incrustados na personalidade. Repito-os ainda hoje. Vou repeti-los até ao dia em que for ter com o meu pai. O meu pai era um Sportinguista total. Via e queria saber de tudo o que dizia respeito ao Sporting. Acompanhava sempre as modalidades do clube. Adorava andebol, recordava-me imensas histórias do Hóquei em Patins do nosso clube, da famigerada equipa que todos os títulos vencia e que todos os clubes derrotava. “Os 5 violinos do Hóquei”. Daí que esta modalidade seja por mim especialmente acarinhada.

Devo ao meu pai e à minha mãe todo o bom que em mim existe. Todo! O meu pai foi para mim melhor pai do que eu fui filho para ele. Não fui de todo um mau filho, mas durante anos e anos só pensei em divertir-me, em sair, em beber, em mandar vir com os professores, em atravessar parte dos anos escolares agarrado aos últimos períodos educativos para passar de ano, com notas miseráveis e pouco recompensadoras. Actos de rebeldia que mereceram do meu pai pouca punição talvez porque também ele, quando era jovem, fazia das suas. Mas levei uma quantas lambadas, claro, e nunca por uma única vez pensei mal do meu pai por isso. Eu mereci-as! E cheguei até a ser punido com um duche de água fria, todo vestido, por ter saído de casa às escondidas. Depois desse duche de água fria, o meu pai teve um ataque de consciência e começou a chorar. Acabámos por nos abraçar. Está guardada na minha cabeça todo esse momento. São momentos como este que definem a relação de um pai com o seu filho. Eu percebi imediatamente o mal que tinha feito, o meu pai entendeu que aquele castigo, embora merecido, era estranho e, talvez, demasiado forte. Nunca mais voltei a fazer o mesmo. Qualquer filho que respeite o seu pai não o consegue ver chorar. Não só não o consegue ver chorar, como não o quer ver chorar.

Para recordar o meu pai e a relação dele com a minha mãe, conto aqui, de forma muito resumida, como o meu pai conheceu a minha mãe. O meu pai entrou para a Marinha Portuguesa em fins de 70, já depois de a Guerra do Ultramar ter terminado. Durante a época de treinos navais da NATO, a fragata onde servia atracou num porto da Escócia, numa das muitas paragens que se faziam por portos de país membros da Aliança Militar conhecida como NATO (OTAN). Lá saiu o meu pai do barco, juntamente com os seus amigos marinheiros, para atacar os bares da localidade mais próxima, o que era comum todos fazerem quando o barco não estava em navegação. Terminada essa curta paragem, o próximo destino era França. Pumba! Avaria no barco, paragem de emergência, para reparos, em Newcastle. Lá foram os marinheiros portugueses para a noite de Newcastle. O meu pai, já dentro de uma discoteca, vê esta jovem inglesa, de longos cabelos pretos e cuja beleza faria qualquer homem dar as voltas e voltas ao mundo só para trocar uma palavra com ela. Aborda a jovem. Conta-lhe que é um oficial brasileiro (ainda hoje não percebo o porquê de ter escolhido o Brasil) que caçava tubarões – a sério! Um mês depois, o meu pai pede, não sem antes visitar os pais da jovem, a tal jovem inglesa linda em casamento. Entretanto, passaram-se 33 felizes anos (fariam 34 anos no dia 28 de Abril). Estamos perante uma história de amor que uma escritora de histórias desse tipo teria muito orgulho em conseguir inventar. Esta, contudo, aconteceu. E só pecará por insuficiência de informação, não por excesso ou truques para a tornar mais especial. Amor à primeira vista, ambos mo disseram quando me contaram como se conheceram. Para quem não acredita, tem aqui a prova de como existe. Pode não acontecer a todos, mas existe. É raro, mas existe. Não é exclusivo de obras de ficção amorosas.

Depois de muitos anos sem entregar-me aos estudos, decidi pensar um bocadinho sobre o que tinha feito até então. Foi fácil chegar à conclusão de que não tinha feito muito. Decidi então abrir a pestana, como se diz, e esforçar-me na escola tanto quanto o meu pai e a mãe o fazem no trabalho. Sacrifício aqui, sacrifício ali, sacrifício acolá, as notas sobem, os recados de mau comportamento quase que desaparecem, as suspensões (5) cessam de acontecer. Lá vou eu para a Universidade Católica, feito que os meus pais adoraram, dado que nenhum deles completou o ensino escolar. Depois de concluir a licenciatura, candidatei-me a três universidades muito prestigiadas. Problema!: eram todas fora de Portugal, e ver-me fora de Portugal era algo que atormentava muito o meu pai e a minha mãe. Quando lhes contei que me tinha inscrito, não quiseram acreditar. O meu pai, conto-vos, é uma mãe-galinha. Sem tirar nem pôr. Sempre me surpreendeu a preocupação maternal (a tal que normalmente cabe à mãe) relativamente a mim. A esse respeito, tive duas mães! Tentei compensar os meus pais pelos erros, alguns habituais e outros muito infelizes, que cometi no passado. Estava a conseguir.

Sabem o que me fode mais do que nunca, aquilo que cá dentro parece ter deixado um tumor que perdurará até eu morrer? Saber que o meu pai não vai conhecer os meus filhos. Saber que o meu pai não vai poder ser avô (que fabuloso avô daria!). Saber que o meu pai não vai mais atender um telefonema meu. Saber que o meu pai não vai estar ao meu lado quando o Sporting estiver a jogar. Saber que o meu pai não vai mais poder aconselhar-me em momentos cruciais da vida de um jovem adulto. O meu pai sempre me confidenciara o desejo dele de me ver casar com uma mulher tão espectacular quanto a minha mãe. Sempre admitiu que teve muita sorte (a minha mãe diz exactamente o mesmo) em encontrar um amor como aquele que descobriu em minha mãe. A relação entre os dois espelhava isso mesmo: uma relação com muitos anos de vida, mas que era vivida como aquela que vivem dois jovens em tenro e louco amor. O meu pai é o primeiro elemento da minha família próxima (pais e avós) a falecer. O meu avô inglês, a caminho dos 100 anos de idade, combateu na II Guerra Mundial. Continua, felizmente, por cá e dispõe-se a, sempre que convidado ou então por iniciativa própria, caminhar até onde for necessário, visitar os locais que merecem ser visitados, fazer as viagens de avião necessárias para ver a filha e o neto. Os meus restantes parentes próximos (maternos e paternos) continuam bem, com os problemas habituais da terceira idade. Mas estão bem.

Tenho tentado combater a solidão que parece definir, agora, a minha personalidade com alguns remédios, por assim dizer. Conto-vos quais são porque nada nos prepara para o que pensamos não poder acontecer – “só acontece aos outros”. Utilizo, por exemplo, os pijamas do meu pai. Ofereci os meus à Igreja do Algueirão, e apenas utilizo os do meu pai. A minha mãe faz o mesmo. Utilizo também algumas das suas gravatas, principalmente as que têm as iniciais do seu nome (F.W). No Dia do Pai do ano passado comprei ao meu pai um relógio, ele que era um fã de relógios. Sou eu que agora utilizo esse relógio – é a primeira vez que o faço, até porque não tenho um único relógio só meu. O escritório do meu pai em nossa casa, cujas paredes estão repletas de quadros do Sporting e de estantes de livros escolares muito antigos, permanece tal e qual ele o deixou. Alguns dias antes de ser internado, sentiu, talvez por lá no fundo dele mesmo perceber que o seu tempo connosco estava a terminar, a necessidade de organizar alguns dos seus livros antigos, dos cd’s de vinil que ele adquiria em lojas de antiguidades (ele sonhava em, depois de se reformar, abrir uma loja de antiguidades). Sinto-me mais próximo do meu pai quando me encontro perto do que era dele. Por vezes, imagino-o ao meu lado, materializando, virtualmente, a sua figura corporal à minha frente, sentado no sofá, ou então a cozinhar, um dos seus passatempos favoritos. E quando estou no carro faço o mesmo. Olho para o lado: e lá está ele no pendura, lugar no carro que detestava, com as palmas das mão sobre as pernas.

Passado mais de um mês após o seu falecimento, a minha vida deu uma volta enorme. Regressei a Portugal de forma definitiva, colocando em pausa o mestrado e deixando a instituição onde trabalhava. Regressei à casa dos meus pais. Vivo agora com a minha mãe, no mesmo quarto que foi meu durante muitos e felizes anos. Sinceramente, e como a casa tem espaço mais do que suficiente para receber mais uma pessoa além de mim e minha mãe, não me vejo a sair desta casa durante os próximos anos. É um retrocesso? Não, não é, porque imaginar a minha mãe, que há mais de 30 anos decidiu deixar a sua vida em Inglaterra para ficar com o meu pai, sozinha em casa é demasiado doloroso para mim, e pensar em deixá-la sozinha, e também porque ela mais do que merece a minha companhia (e também porque quero esta perto dela, o mais possível) soa-me como uma traição abominável – eu adoro-a, ela é uma mãe espectacular, sempre tratou muito bem de mim, e só vejo com bons olhos o futuro se ao meu lado ela estiver. Vou visitar o meu pai todos os dias. Está sepultado num cemitério perto de nossa casa. Deixo-lhe lá o jornal que ele todos os dias lia, o Jornal A Bola (sim, eu bem tentei que o meu pai abandonasse esse pasquim, mas sem sucesso). Falo com ele, leio-lhe um capitulo de um livro que eu acho que ele gostaria de poder ler. Já conheço todos os que trabalham no cemitério. Boa gente, todos muito simpáticos, solícitos perante o sofrimento de quem visita o local para poder encontrar os seus amigos ou entes queridos. Entre o portão de entrada e a zona onde está o meu pai, e este cemitério é de uma dimensão considerável, deparei-me com duas campas embelezadas com o símbolo do nosso Sporting. Dei uma palavrinha de apreço a ambos. Ao Sr. Ambrósio e a um outro homem cujo nome se tornou impercetível por causa do avanço do tempo sobre a lápide. O símbolo do clube, o antigo, pouco se percebe, salvando-se o verde e o leão, já bastante raspado.

Nunca mais consegui ver um jogo do Sporting Clube de Portugal, seja em que modalidade for, algo que nunca fiz desde 1993/1994, época em que comecei a acompanhar o Sporting assiduamente (embora nos primeiros anos eu tenha acompanhado o SCP pela rádio, até porque os jogos pela televisão alternavam entre Sporting e Benfica e, embora mais raro, Porto). Não consigo, pelo menos por enquanto. Sei, superficialmente, o que se passa, até porque compro todos os dias o jornal A Bola para o meu pai, mas não consigo acompanhar o SCP. O meu Sportinguismo não morreu, claro que não, mas é ainda muito cedo para regressar a algo que somente conheci com o meu pai sempre ao meu lado – não conheço o SCP sem o pai Fernando a sofrer tanto quanto eu e comigo. Eu perdi um pai fenomenal. A minha mãe perdeu um marido espectacular. Os meus avós perderam um filho muito querido. E o Sporting perdeu um Sportinguista do mais genuíno que pode existir. Quando, estando eu em casa dos meus pais, estou na sala de estar, sentado no sofá que eu normalmente ocupava, tinha o meu pai exactamente ao meu lado esquerdo. Agora, se para lá olhar, o sofá está desocupado. Custa a crer. Prefiro então não enfrentar essa tristeza. Por enquanto. Acho que um dia, muito lá para a frente, vou sentar-me novamente no meu sofá e ver o meu clube a jogar. Acho que sim. Acho que o vou conseguir fazê-lo.

Sou hoje um jovem amargurado. Vejo pessoas na rua, tipos que parecem não ter para onde ir nem o que fazer, e pergunto, várias vezes por dia: este anda aqui a fazer o quê? O meu pai faleceu porquê? Confusões de merda, na mente e no corpo, que parecem não deixar-me em paz. Pode ser que o tempo trate de as afastar de vez de mim. Combato-as com as milhares de boas memórias que tenho do meu pai – são suficientes, mas a amargura é muita. Mas as perguntas, essas, ficarão para sempre. No último dia da minha vida, naquele último momento de vida, daqui a muitos, muitos anos, direi a quem próximo de mim estiver: “Pai, estou a caminho, prepara aí uns abraços e uns beijos!” Sentindo-me como me sinto agora, confesso que não aguentaria perder ambos os meus pais ao mesmo tempo. Pensava que iria ter o meu pai até daqui a muitos anos, mas tenho 23 anos e o meu pai já se foi embora. Tenho cá a minha mãezinha, contudo. A minha mãe é também um espectáculo como mãe, como pessoa. Que sorte do outro mundo tive eu em ter pais como os meus! Queria poder dizer ao meu pai, depois de conquistar algo para mim, o seguinte: “Pai, isto é em tua honra!” Não o vou poder dizer.

Perdi o meu pai de um momento para o outro, quase do nada, inesperadamente, mesmo sabendo do terrível problema de que padecia. Ao contrário de grande parte dos casos dos doentes de cancro no pulmão, o meu pai teve um principio de AVC seguido de uma paragem cardio-respiratória, não conseguindo prolongar o tratamento durante muito tempo. Passou despercebido, o AVC, a mim e à minha mãe. Algumas semanas antes, o meu pai sentiu-se muito mal, subitamente perdendo o apetite e sofrendo muitas náuseas, tonturas, até ao ponto em que não podia cheirar nada, movimentar-se um metro que fosse sem vomitar ou cair. A doutora informou-nos de que o terceiro dia após uma sessão de quimioterapia costuma ser o pior, agregando todos os sintomas numa confusão que destrói a motivação de qualquer doente. Nesse dia, chamámos o 112 e a ambulância levou o meu pai às urgências do Hospital Amadora-Sintra. O médico que lá o tratou disse que não era nada de anormal. Ainda bem. Algum tempo depois, aconteceu exactamente o mesmo, mas desta vez o meu pai nem conseguia sair da cama, sentia-se incapaz de movimentar o lado esquerdo do corpo e a sua fala era imperceptível: murmurava. Como eu não estava em casa, teve de ser a minha mãe a chamar o 112. A ambulância veio novamente a nossa casa. Eu não estava lá. Foi esse o último dia em que vi o meu pai, numa terça-feira, dia 13 de Março. A minha mãe ficou com o meu pai o dia 13 todo, ao lado da cama onde estava deitado. O médico que o recebeu nesse dia 13 informou a minha mãe que, ao contrário da primeira vez, o caso era sério. Era perigoso. O meu pai sofrera um principio de AVC. Fui ter com a minha mãe ao hospital sem saber da gravidade da situação. Lá chegado, a minha mãe contou-me tudo. Mesmo assim, e porque sou optimista por natureza, acreditei que o meu pai iria ultrapassar aquele mal. Queria lá ficar, ao lado dele, a minha mãe também, mas não nos foi dada permissão para tal. Viemos para casa. No dia a seguir, recebemos um telefonema do médico. Pedia-nos que fossemos ao hospital para “discutir a situação do meu pai”. Confesso: pensei imediatamente que o meu pai havia falecido. Fomos lá e, porque o que se passou é demasiado doloroso, ficámos a saber que o meu pai havia falecido às 03h55 do dia 14 de Março. Falei com ele todos os dias da minha. Todos. Todinhos. Nem um passou sem que eu falasse com ele. Contudo, não consegui falar com ele uma única vez depois de ele ter sido internado. O meu pai temia ficar incapacitado para o resto da vida. Sempre o confidenciou a mim e à minha mãe. Sempre me disse que seria horrível ele tornar-se um fardo para os outros. Agora que penso na forma como ele pereceu, penso, não sei se genuinamente ou se é um mero mecanismo que eu próprio congeminei para me distrair da dor que sinto, que o que lhe aconteceu assim aconteceu para evitar precisamente os 6 restantes meses de tratamento que, no final dos mesmos, seriam inconsequentes no seu objectivo. Resta-me esse consolo. Ele não sofreu. Sei-o de certeza.

Mais uma coisa: o tempo não cura tudo. Alivia. Mas não cura. Garanto-vos. Peço-vos o seguinte: depois de lerem o que escrevi, não pensem duas vezes em procurarem a pessoa que mais amam e dizerem-lhe isso mesmo, olhando-a nos olhos, abraçando-a com toda a ternura que o vosso corpo tem para oferecer. Mas utilizem a palavra “Amo-te”. Disse-a muitas vezes ao meu pai, quando era criança e, especialmente, quando soube que ele tinha cancro no pulmão. O meu pai partiu sabendo que eu o amava muito, assim como a minha mãe. Fico muito feliz em o saber. Confere-me uma tranquilidade que agora me faz muita necessidade. Não imaginam o quão doloroso é saber que nunca mais vou ouvir a sua voz.

E volto ao que escrevi no começo. Quando alguém morre, todos o recordam com boas afirmações. Todos. O meu pai não precisa que eu embeleze a sua pessoa, o seu trajecto, a sua qualidade de pai, de marido, de filho, de familiar, de amigo. Neste caso, sei-o com todo o meu ser, perdeu-se uma boa pessoa. Eu perdi um pai que foi para mim, a par da minha mãe, uma pessoa realmente meu amigo. Todos os filhos merecem um pai como o meu. Vejo, todos os dias, na rua ou na televisão ou numa revista ou noutro local qualquer, muita merda que continua neste mundo a viver, a respirar, a fazer nada de útil a terceiros. Eu fiquei sem o meu pai, a minha mãe sem o seu amado e querido esposo. Estou fodido. Estou chateado. Estou amargurado. Espero não ficar assim para sempre. Persistir triste seria ir contra tudo o que me foi ensinado pelo meu pai. Vou recuperar, sei que sim. O meu pai não está ao meu lado, fisicamente, mas está dentro de mim, perto de mim, está naquilo que foi dele. Sei que posso falar com ele. Acredito que sim. Sou céptico em relação a entidades divinas, mas quero acreditar que um homem como o meu pai não pode apenas falecer e deixar de existir. Tem de haver algo mais! Como adorava que existisse um microfone ligado a todo o mundo, para eu poder gritar: TIVE UM PAI ESPECTACULAR!

Até à próxima, irmãs e irmãos Sportinguistas! Nada na vida está garantido, não se esqueçam. Aproveitem todos os momentos ao vosso dispor. A puta da vida, por vezes, não nos deixa em paz e lixa-nos quando menos esperamos, ganha forças e vai-nos ao íntimo, ao coração, e arranca-o cá para fora, e nós sentimos cada instante – e nada podemos fazer para a contrariar. A vida, essa coisa tão abstracta mas tão profunda, traiu-me, mas, por outro lado, deu-me também a conhecer o meu pai. Sejam bons pais para os vossos filhos. Sejam bons filhos para os vossos pais. Amem muito quem o merece. Ignorem quem vos quer mal. Infelizmente, a vida dá-nos a conhecer mais dos segundos do que dos primeiros, mas são estes últimos que interessam, são estes últimos que definem a vida que cada um de nós construirá para si e para quem de si depende. Quem tem amor tem tudo. Quem ama e é amado de volta tem tudo.

O último cartão de aniversário que recebi do meu pai:

Sem Título

Obrigado por tudo, pai, muito obrigado! Se me dissessem para encomendar um pai, certamente que este seria muito inferior ao pai que tu foste para mim.

Do teu filho que te ama mais do que o mundo,

Daniel.

11 de março de 2012

Número 5

Mais do que o fabuloso resultado, assim como a consistente e positiva exibição que possibilitou ao Sporting vencer um clube forte por gordos 5-0, fomos agraciados com alguns bons momentos que poderão surtir vantagens em tempos muito próximos, e todos o esperamos que estes comecem frente ao City:

Jeffrén regressa e marca dois lindos golos (o primeiro relembrou-me os belos golos do Pedro Barbosa);
Izmailov marca um golo (esforço e dedicação insuperáveis);
Ricky regressa aos golos (a motivação que tanto lhe estava a faltar está de volta);
Matías Fernandez (se bem utilizado, o melhor criativo do campeonato), há muito por mim tido como um jogador essencial a uma equipa como a nossa, marcou um excelente golo;

É assim, amigas e amigos Sportinguistas. De uma vitória heroica conseguida frente ao bilionário City para um limpinho e justo 5-0 ao Guimarães, espero que a caminhada de sucesso só termine muito em diante, no Jamor, com o Sporting a levantar a Taça de Portugal.

Devo dizer que o 4º lugar pode muito bem não ser o objectivo mais realista neste momento. Acredito que não é de todo desmesurado acreditar num terceiro lugar, mesmo reconhecendo que presentemente não existe qualquer diferença real entre o terceiro lugar e o primeiro. Reparem: há 2 semanas, o campeão estava decidido. Seria louco qualquer um afirmar que está hoje encontrado o campeão nacional 2011/2012. Penso ser possível lutar pelo terceiro lugar, principalmente quando um dos três actuais primeiros perder fulgor e se deixar ser aproximado pelos clubes a seguir.

Excelente ambiente em Alvalade, com muitas mulheres Sportinguistas presentes, permitindo a qualquer homem Sportinguista confirmar que a mulher Sportinguista possuí uma beleza inigualável! É linda!!!

8 de março de 2012

Dizem que o dinheiro não compra história

Pois não, não compra. Mesmo se comprasse, o City, ou qualquer outro clube, não teria dinheiro suficiente para comprar uma história como a do Sporting Clube de Portugal – ficariam a faltar muitos mais biliões de euros. Nem com toda a família real dos Emirados Árabes Unidos metida ao barulho. São mais de 100 anos de vitórias.

Que vitória! Que vitória! Xandão! Sá Pinto! Equipa! Público! 1-0! E com um castelhano pouco simpático a apitar a partida! O hino nacional! Portugal!

Isto é o Sporting! Isto é o Sporting!

Sobre o jogo: que vitória! E pronto, chega!

7 de março de 2012

Só em Portugal é que o que está fora do campo de futebol consegue valorizar mais um jogador de futebol

A imprensa portuguesa já nos habituou aos seus momentos de escrita lúdica – apontam sempre no sentido pró-Benfica. Alguns ousam considerá-los jornalismo. Para mim, é lixo. Neste país, a imprensa desportiva tem como prática comum valorizar jogadores que, mesmo não sendo maus ou tendo até potencial, não merecem tamanho destaque ou elogio. Ontem, e apenas para não recuar muito tempo, era Gaítan, que o jornal A Bola, órgão noticioso desde sempre servo do Benfica, tentou transformar numa espécie de Di Maria 2, esperançado numa venda que ajudasse o Presidente Vieira a não ser obrigado a dar uma conferência de imprensa a anunciar a obrigatoriedade de desinvestir – austeridade no futebol. Choviam propostas milionárias de 40 milhões de euros (!?!), mas o presidente Vieira, contava-nos a A Bola em manchetes várias, mandava à fava as limitações que o tempo impõe e rejeitava-as.

Os próprios lampiões, já enfadados do benfiquismo excessivo de alguns (a ShitTV granjeia cada vez menos apoio entre os lampiões), trataram de colocar Gaítan no seu sítio: um bom jogador, com qualidades interessantes, importante no Benfica 2011/2012, mas em momento algum o prodígio que a A Bola afirmava ele ser. Ontem, e estando a valorização artifical de Gaítan posta por enquanto de lado (miseráveis exibições em jogos onde os verdadeiramente bons jogadores tendem a demonstrar-se), o alvo é já outro: Nélson Oliveira, cuja qualidade fantástica, dizem os jornais, se encontra corporalizada na fotografia em que o dito jogador marca o golo que inviabilizou a equipa do Zenit de continuar a pensar em apurar-se para a próxima fase. Importa referir, depois de visionado o lance, o que aconteceu: o tal jogador, que momentos antes manifestara a sua incapacidade de jogar em equipa ao não passar a bola a um jogador totalmente livre de marcação, apenas marcou o golo por interferência do defesa, cujo corpo faz saltar a bola por cima do guarda-redes do Zenit. Técnica na execução? Só a do defesa, que em queda consegue passar a bola por cima do seu próprio guarda-redes? Prodígio? Só o defesa, que sem intenção conseguiu facilitar um golo a um avançado que rematou sem grande execução técnica a bola.

E aproveito para, de acordo com a verdade do que aconteceu, reescrever a pequena nota disponível na capa de hoje do jornal Record: Jovem avançado só precisou de 13 minutos para ficar na história: estreou-se na Europa e marcou. Aqui fica a versão do que de facto aconteceu: Jovem avançado só precisou de 13 minutos e de um defesa adversário para ficar, com vital contribuição deste último, na história: estreou-se na Europa e foi ajudado por um defesa-adversário a marcar um golo. Verdade, 1; Propaganda pró-Benfica, 0.

Este adversário é tão complicado de derrotar quanto outro qualquer. A propaganda não é apenas uma ferramenta utilizada por políticos ou partidos ou ideologias, é também utilizada por quem pretende transformar A em B, seja em futebol, aqui o desporto referido, ou em outro qualquer assunto cuja verdade é lesiva a quem de direito. Quando o Benfica está mal, o jornal A Bola, principalmente, saca de entrevistas motivadoras e factos positivos. Quando o Porto está mal, o jornal O Jogo critica o Benfica utilizando palavras de Pinto da Costa. Quando o Sporting está mal, tanto A Bola como o Record se unem em noticiar, mesmo que mal e servindo-se sempre dos mesmos comentadores (os ditos “notáveis), os problemas do Sporting, problemas esses que existem também nos outros clubes – consequências da ausência de semi-auditorias semi-independentes sobre os estados financeiros de Porto e Benfica.

Como deve comportar-se o comum Sportinguista (o mais importante, porque é o que está em maioria, e não o “notável”) perante tão grotesca e enviesada ameaça, que no entanto não é recente? Deve, quando chamado a falar sobre futebol, defender o seu clube. E não deve dar nem um cêntimo do seu precioso dinheiro a estes trafulhas que se consideram jornalistas. Eu também escrevo umas quantas coisitas, posso também considerar-me jornalista? Posso? Bacano. Mas não quero. Dispenso.

A publicidade do Sporting ao jogo frente ao Manchester City merece, pela sua qualidade, ser positivamente referida, mas falta o resto, a começar pelos preços dos bilhetes – que corresponde a uma parte substancial da decisão de ir ou não ver o jogo. Alguém da SAD do Sporting desconhece a crise que assola o bolso dos portugueses? E a outra crise, a relacionada com o futebol podre e pobre que a equipa do Sporting actualmente apresenta? Só boa publicidade não chega. Aliás, em futebol, um desporto que vive da emoção de quem apoia um clube, boa publicidade é até deveras irrelevante.

EM FRENTE, SPORTING! CORAGEM, SPORTINGUISTAS!

2 de março de 2012

Sobre o jogo entre as forças da Corrupção: como um Sportinguista consegue, de maneira sincera, explicar este jogo

Escrevi numa anterior mensagem que uns amigos meus convidaram-me para marcar presença no jogo entre  Benfica e  Porto, que terminou com a vitória do clube cujo treinador havia, há poucas semanas, dito que as faixas de campeão podiam já ser encomendadas pelo clube visitado. Não foi a primeira vez que estes meus amigos o fizeram, não será, espero eu, a última, mas as amizades, quando são genuínas, merecem determinados sacrifícios, embora esses amigos me perguntem, como um “eu dou, tu dás”, quando será o dia em que eu os convidarei para verem um jogo entre o Sporting e o Porto. A pergunta é feita ano após ano. A minha resposta aos ditos convites é sempre a mesma: não me levem a mal, mas eu não quero benfiquistas no meu estádio. Não consigo ver um jogo do Sporting passivamente, disposto a esquecer-me, nem que por brevíssimos momentos, o que está a acontecer em campo para comentar este ou aquele acontecimento de uma maneira mais analítica. Mas como desejo ser tão amigo deles como eles são em relação à minha pessoa, encontrei alternativas: jogos da equipa nacional, nos quais as minhas intervenções se focam na contribuição dada pelos jogadores formados no Sporting Clube de Portugal: Ronaldo, já superior ao Eusébio, Nani, Patrício, e por aí fora.

O convite foi feito novamente. Eu aceitei-o. Não me sinto de todo um traidor por fisicamente estar presente numa partida que opõe os dois principais rivais do Sporting. Bem pelo contrário, sinto-me como um elemento purificador. Mas a minha capacidade purificadora, por assim dizer, é deveras limitada. Sou um entre 59.996 (o grupo de amigos, os três lampiões e eu) humanos nefastos. Não chego para toda a toxicidade presente numa partida como a que terminou ontem à noite. As minhas impressões sobre este jogo entre rivais não variam de época para época, de jogo para jogo, apesar de os últimos dois jogos entre estes clubes, em casa do clube ontem visitado, puderem ser considerados decisivos por ambas as partes. Este foi, em termos de ambiente, o mais fraco Benfica vs Porto dos últimos anos. Porém, o espectáculo em campo compensou as insuficiências das outras vertentes da partida. Como elemento neutro, esperava poder presenciar um festa diversificada. Esperava ver lampiões à cabeçada com tripeiros. Cinco ou seis calhaus pelo ar. Umas quantas garrafas de cerveja. Até uns petardos e umas tochas. Não vi nada similar. Cá fora, com os meus olhos a latejarem por causa do vermelho que me rodeava, todos pareciam estar sob o efeito de calmantes. Parecia que era apenas mais um jogo em que a equipa da casa iria beneficiar da ajuda do árbitro assim que a equipa adversária demonstrasse capacidade para discutir a repartição dos três pontos. “Ai sabes jogar à bola, é? Então toma lá disto: piiiiiiiii, estás expulso e grande penalidade assinalada a favor do Benfica.”

Perguntam agora vós: vestiste o quê? Foste de vermelho, caralho, para seres simpático para os teus amigos e tal? De azul? Preto? Nem uma nem outra. De verde, ora pois! Calças de ganga, botas da Timberland (umas brancas a que o tempo e falta de lavagens constantes trataram de escurecer) e um casaco verde da Adidas. Um verde autenticamente verde. Nem muito escuro, tipo espinafre, nem muito claro, tipo lima. Verde Sporting, digamos. Identificável a todas as distâncias. De longe, de perto, de cima, de baixo. E os olhares questionadores que muitos lampiões me lançaram confirmaram-no. Ah, e outro pormenor muito interessante: as meias, cobertas totalmente pelas calças de ganga, eram as do Sporting, do equipamento principal do nosso clube. Alguma coisa 100% do nosso clube eu tinha de levar. Este ano foi um par de meias, no anterior tinha sido uma t-shirt.

Falemos então do jogo Benfica vs Porto. Escreverei, a seguir, não sobre o jogo de futebol em si, mas sobre o ambiente destes jogos. E vou ser o mais sucinto e frontal possível, pelo que acho útil pontuar cada uma das minhas opiniões sobre o ambiente:

  1. Os Super Dragões não valem um chavo. 80% dos cânticos, de longe os mais cantados pelos adeptos portistas, são contra o Benfica. Outros 15% são a favor do Pinto da Costa. E os restantes 5% não consegui perceber o que eram. Um grupo de Sportinguistas faria uma festa épica se o Sporting sacasse da Luz um resultado como aquele, e como aconteceu (reviravolta).
  2. Eu consegui ter, nesse mesmo dia, mais pessoal na minha mesa de almoço, no Centro Comercial Allegro (visitem o restaurante Hollywood!), do que os Diabos Vermelhos no seu sector (só aparecem em números não-vergonhosos contra o Sporting).
  3. Os que Não Têm Nome não têm também voz.
  4. O Jorge Jesus ou é mesmo um treinador que gosta de esbracejar freneticamente e gritar durante os 90 minutos, como se no balneário nenhuma táctica tivesse sido construída, ou o homem padece de um problema nervoso qualquer.
  5. Não há nenhuma outra massa associativa como os benfiquistas para gritar por nada de interessante.
  6. Sejam quais forem as variáveis de um Benfica vs Porto, um Benfica vs Sporting é sempre mais presenciado e o ambiente é único, e assim o é por causa dos adeptos do Sporting, cuja força das vozes não tem fim.
  7. Os adeptos do Sporting, se lhes estivesse reservado um sector naquele estádio, cantariam mais que os portistas e os benfiquistas juntos.
  8. Eu fiz mais barulho que os 7000 e tal lampiões daquela bancada…quando fui ao quiosque buscar dois cachorros.
  9. 95% das benfiquistas são esteticamente…como é que posso escrever isto sem parecer demasiado ofensivo…problemáticas.
  10. A maioria dos benfiquistas entoou cânticos racistas contra o Hulk. Ou isso ou querem que o Vieira o contrate. E os mais audíveis provinham de uma bancada cuja claque tem números substanciais de gente oriunda do continente africano.

O que mais ouvi dos lampiões quando estava no interior do estádio e enquanto saía do recinto e me dirigia para o carro (no estacionamento do Colombo):

“Enraba-o.” [quando o Gaítan tinha a bola e estava perto do A.Pereira]
“Preto do caralho!” [para o Hulk]
”Eu sempre vos disse que o Jesus era uma merda.”
”O Vitor Pereira é melhor que o Villas Boas.”
”Preto do caralho!” [para o Rolando, que saiu do campo a provocar a lampionagem]
”Nunca mais nos vemos livres do Jesus. É como o Paulo Bento, está cá forever!”
”O Cardozo marca golos mas não sente a camisola.”
”É melhor despachar agora o Gaítan antes que percebam que ele só sabe jogar à bola uma vez por mês.”
”O Garay fugiu, saiu porque não teve colhões para aguentar a pressão.”
”O Rui Costa desapareceu. O Vieira lobotomizou-o.”
”O Veiga era mafioso, mas faz cá falta.”
”Maria, perdemos 3-2. Maria? Estou?” [lampião ao telefone com a, penso eu, esposa]

Os meus comentários aos meus colegas durante e sobre o jogo:

“Vocês estão a jogar com dois defesas no lado direito: O Maxi e a mosca dele.”
”O Jesus hoje tentou ser o Kasparov do futebol. Mas o Vítor Pereira fez de Deep Blue.”
”Mete o Mantorras!!”
”Mete o Yannick!”
”Vai haver mais um golo, garanto-vos.” [enquanto estava 2-2 e eu apostava 100€ na betfair em como seriam marcados mais de 4,5 golos]
”Deixem-me sair primeiro, se faz favor!” [gritava eu aos adeptos do Porto quanto estes pediam para que a luz do estádio fosse apagada]

Falemos agora do jogo de futebol em si. Não consegui perceber se o domínio que o Porto fez sentir no inicio do jogo foi mérito da própria equipa, ou se o Benfica consentiu-o. Parece-me antes que o Porto dominou porque assim o desejava e porque o Benfica entrou na partida receoso. O Benfica demonstrou-se incapaz de circular a bola porque o seu meio-campo, pondo de lado um jogador que nunca defende senão em bolas paradas, Pablo Aimar, só se preocupou em tentar anular o meio-campo do Porto.

Com a transferência de Lucho do Marselha para o Porto, a máquina dos tripeiros é uma coisa completamente diferente, para melhor, em total oposição à merda que o Porto vinha praticando em todos os estádios deste país, e que só a arbitragem conseguia atenuar. E nem se trata de louvar o Lucho enquanto jogador e aditivo ao colectivo de jogadores do Porto (todos o reconhecem como excelente jogador), mas antes de salientar as outras muitas vantagens que os outros jogadores do mesmo sector fazem proporcionar à forma como jogam. O Maçã Podre, antes um faz-tudo vadio, é agora um faz-tudo criterioso. Com Lucho em campo, o Porto ganha eficácia no passe e inteligência no posicionamento. Visto ao vivo, é fenomenal a capacidade posicional do Lucho Gonzalez. O homem raramente corre, mas consegue estar em todo o lado, no momento correcto. O Fernando, nunca tido como um jogador hábil com a bola nos pés, até sabe fazer umas quantas coisinhas interessantes. Não se esperam dele passes longos e em desmarcação, mas é um médio perito em desarmar jogadores no um para um (melhor que ele só o Rinaudo) e a soltar a bola para um jogador que sabe o que fazer com ela, ou Lucho ou Moutinho.

O Benfica entrou receoso, talvez demasiado pensativo para uma partida em que tinha a obrigação de dominar as motivações do jogo. Jogava em casa, perante o seu público. Achei do mais arrogante possível, apesar da rivalidade entre os presidentes e os treinadores de ambos os clubes, a conferência de antevisão do Jorge Jesus. Quando questionado sobre se as presenças de Lucho e Janko tornavam o Porto mais forte, Jesus optou por menosprezar as ditas transferências, particularmente a de Lucho. É óbvio para qualquer apreciador deste desporto, até aquele cujo fanatismo o impede de construir uma análise minimamente lógica, que a época 2011/2012 do Porto ficará marcada por duas versões do próprio clube: pré-Lucho e pós-Lucho. O Porto que vigorou durante a primeira parte do campeonato seria vergado até pelo Benfica menos motivado da presente época.

O curioso é perceber que o melhor Porto até agora defrontou o pior Benfica até agora. O Porto proporcionou ao Manchester City um jogo complicado. No Dragão, a equipa do Porto foi dominante, demonstrou iniciativa. Melhor que demonstrar iniciativa, é saber construi-la. E o Porto fê-lo. Com Lucho já na equipa, não se esqueçam. A eliminatória foi decidida por aquilo que quantias enormes de dinheiro oferecem: jogadores de qualidade mundial. O Benfica que perdeu contra o Porto esteve irreconhecível quando comparado ao que defrontou o Manchester United em Inglaterra, por exemplo, ou até o Porto, na primeira fase do campeonato. O Benfica e o Porto são os clubes de quem regula o futebol. O inicio de campeonato de ambos foi marcado por ajudas que permitiram a Porto e Benfica garantirem pontos em jogos complicados. Contra nós, claro, acontecia o contrário, apesar de admitir que a qualidade do nosso futebol era então muito insuficiente. Mas os campeões não vencem bem todos os jogos que disputam, não é? Estrelinha de campeão, como se diz várias vezes neste desporto.

Pude ouvir pela rádio, num carro de ocupantes em silêncio quase nunca interrompido, que o Jesus culpou inequivocamente o fiscal de linha pela derrota. Jesus afirmou que o fiscal permitiu um golo ilegal do Porto propositadamente, o golo de Maicon que fez saltar o Porto para a frente do resultado. O Presidente Vieira, o tipo que os lampiões no estádio diziam ter lobotomizado o Rui Costa (até que concordo, por acaso), decidiu também culpar os árbitros, mas apontou a mira ao árbitro principal, o sócio do Benfica Pedro Proença. O Pedro Proença, importa recordar, apitou o Sporting vs Porto, e o lance mais prejudicial da partida foi, como é de esperar, a favor do Porto, quando um Elias isolado frente a Helton foi impedido de continuar por fora-de-jogo barbaramente (repito: barbaramente) mal assinalado.

Quando o Porto fez o terceiro golo, ninguém protestou. Deixemos claro este facto: ninguém, seja nas bancadas, no banco de suplentes do Benfica ou no campo, protestou com o árbitro. Preferiam antes, pelo menos alguns jogadores mais indispostos com o resultado, agacharem-se e colocarem a mão sobre a cabeça, em desespero. No entanto, isso não torna válido o erro. E foi de facto um erro. Maicon estava em fora de jogo. Estava uns 20 centímetros à frente do defesa do Benfica. Por esta mísera distância entre um e outro se percebe que a decisão está longe de ter sido propositadamente tomada contra o Benfica. Quando o Sporting protestou, fazendo-o sempre com respeito e razão, as arbitragens manhosas de que vinha a ser alvo, a arbitragem engendrou um nojento boicote contra o nosso clube. Muitos árbitros, incluindo os mais conceituados (em nome só, porque competência é coisa que as gentes do apito nunca ouviu falar), abstiveram-se de apitar os jogos do Sporting. O nosso clube, o nosso amado e nunca ajudado – nem o queremos! – clube, foi forçado a, conjuntamente com o adversário que a jornada ditava, requisitar um voluntário da função de árbitro para apitar a partida. Luis Filipe Vieira, depois de ver o seu clube incinerar 5 pontos de vantagem sobre o Porto e transformá-los em 3 de distância, abriu a sua boca pestilenta e criticou os árbitros. Esperemos para ver o que vai acontecer.

Eu sei. Nada. Até porque a imprensa de amanhã, com o Jornal A Bola a guiar o carro dos lampiões agastados, tratará de lançar sobre Pedro Proença a apreciação de que a arbitragem prejudicou severamente o Benfica, vitimizando esta corrupta instituição desportiva. Não aconteceu tal, devemos dizê-lo. Por exemplo, é incrível como Pedro Proença não expulsou o Maxi Pereira depois de este ter dado um soco, acto vísivel de todo os lados, ao Janko. Proença viu o lance, mas decidiu terminar a partida e esquecer o cartão vermelho. Djalma, ao fazer falta sobre um jogador do Benfica perto da área, não merecia o vermelho directo. Ao contrário do que o jornal Record benfiquisticamente escreve, a expulsão de Emerson não empurrou o Porto. O Porto já estava em cima do Benfica minutos antes do defesa-esquerdo ser, e bem, expulso. Naturalmente que a capacidade de contra-ataque do Benfica foi eliminada após a expulsão.

Os lampiões, 95% deles, são uma classe de adeptos muito estranha. E trata-se de um “estranho” pouco simpático, entendam. Queixam-se de tudo. Foram beneficiados em muitos jogos só nesta época. Os tripeiros, contudo, não são tão hipócritas quanto os benfiquistas. Sabem, bem lá nos escombros das suas consciências, que o sucesso do FC Porto tem fundações ilegais. Devem tudo ao Pinto da Costa. O Pinto da Costa é maior que o FC Porto. Quando sair, não sei com total certeza o que vai acontecer, mas sei que nada será como antes, e o sucesso contemporâneo será transformado em matéria de museu…que não existe. As gentes do FC Porto abandonarão o clube de forma célere.

Pronto, é esta a visão de um Sportinguista que marcou a presença num jogo de futebol interessante, no entanto algo oco em sentimentalismo. Como faz falta a este campeonato um Sporting à Sporting, capacitado para colocar as escumalhas azul e vermelha a lutarem pelo segundo lugar. Queria o resultado mais benéfico para o Sporting, o empate. Pena que não aconteceu.

Adenda: o Rui Costa afinal não desapareceu nem foi lobotomizado, mas está com uma fome que alguns podem vir a considerar sobre-humana:

Força Sporting, que hordas de tripeiros e, juntos numa mistela repugnante, lampiões não valem um décimo de um Sportinguista!

O jornal Público pergunta, eu respondo

Depois de um ano de trabalho e análise, o PÚBLICO vai sair para a rua com um novo grafismo no dia 5 de Março. E perguntará o leitor: porquê redesenhar o jornal outra vez?”

Porque não vendem um peido? Porque quem vos financia começa a olhar de lado para o tal “projecto inovador”? Porque chegaram à conclusão que fabricar notícias não aumenta a tiragem?

1 de março de 2012

Telegrama para Vicente Moura

Quando é que o Sportinguista puxa uma à Lusa…

… e anula do quotidiano do nosso clube a Linha Roquete e a sua fantástica capacidade de criar endividamento?

Restará muito pouco do Sporting se estes “gestores” permanecerem no cargo, isso é uma certeza.

29 de fevereiro de 2012

Agência Lusa e outros acontecimentos à portuguesa

É a primeira vez que leio que uma agência noticiosa “anula” uma noticia. Bizarro, no mínimo, patético, na realidade.

E que tal vomitarem cá para fora a dita fonte? Ou também a “anularam”? Ou a fonte “anulou-se” a si mesma? Ou a quem encomendou a notícia sentiu-se “anulado” pela sua própria patetice? Ou o verdadeiro objectivo, entendido desde o inicio desta treta toda, foi conseguido, ou seja, diminuir o foco sobre a decisão de despedir o Domingos, que no dia anterior ao despedimento foi dado como seguro no cargo que então ocupava no Sporting, e criar teorias alternativas que justificassem uma decisão que, apesar do bom começo de Sá Pinto no cargo e das declarações dos vários jogadores, eu continuo a considerar demasiado forçada e pouco e mal justificada?

Apurem-se responsabilidades, é o mínimo que os Sportinguistas, e o próprio Domingos, exigem.

Em Portugal a propensão a comédias tristes é imensa. O Boavista desceu por corrupção, o que não invalida a verdade de que este clube da cidade do Porto (muita coisa sinistra acontece em clubes daquela região de Portugal), o único verdadeiramente penalizado (e justamente!) no Apito Dourado, não é tão corrupto quando o FC Porto ou o Benfica, mas este dois permaneceram, e permanecem e permanecerão, imunes a qualquer criminalização dos seus comportamentos sabotadores. Agora, a decisão, estando já o Boavista nas ruas da amargura e tornado num clube tão apoiado quanto um qualquer clube local (a maior parte dos adeptos do Boavista prescindiu de apoiar o clube, abandonando-o), foi anulada. Pronto, lá estamos nós de novo neste verbo que nunca foi tão estranho como hoje em dia.

O Paulo Futre apresenta um programa no qual conecta ofertas de emprego a portugueses que procuram emprego. Depois de ter sido o Sporting a garantir a empregabilidade do próprio Paulo Futre, a sua chamada a inúmeros programas televisivos, a garantir-lhe ainda mais notoriedade para o lançamento do seu livro, estou ainda à espera de um agradecimento de Futre ao Sporting Clube de Portugal.

O clássico da Corrupção joga-se na sexta-feira. Os nomes dos constituintes são conhecidos, pelo que me abstenho de novamente os referir. Vai ser apitado por um árbitro sócio do clube da casa. Quantas expulsões? 1, 2, 3? Invasões de campo de tipos vestidos à Diabo? Cotoveladas que o árbitro não quer ver do Javi Garcia? “Filhos da puta” proferidos pelo Jesus aos seus jogadores? E ao treinador do Porto? Quantos mergulhos à Hulk? Qual dois dois corruptos clubes vai queixar-se mais no fim da partida? Quantas manchetes motivacionais vai o jornal A Bola criar até ao jogo? E o jornal O Jogo? A ex-namorada que Pinto da Costa recrutou para si mesmo num bar de alterne vai marcar presença, ou já lhe “anularam” as amizades com o clube da casa?